Foi como se eu tivesse saído de dentro de mim mesmo. Mas não, eu não pairei sobre minha figura, eu me vi do nada ao lado de mim e confesso me afastei um pouco para poder me observar melhor. Fique rindo (de nervoso), tenso como nunca tinha ficado antes e pude entender porque as pessoas tem medo ou não gostam de mim, ou ambas as coisas. Eu me vi. E preferia não ter visto nada.
Eu estava, para variar, de fone de ouvidos e eu ouvia Heather and Kirsten. Eu não apenas ouvia. Eu cantava, não obstante minha voz não ser das melhores para ser ouvida cantando o que quer que seja, eu cantava e em um volume que eu ouvia perfeitamente.
Ok, ao menos a pronúncia do inglês estava correta, mas ainda sim, quem quer ficar ouvindo um homem cantado as 22:10 na estação de trem musicas do início dos anos 90 que são não são old fashion também não são o supra sumo da modernidade musical? Para piorar, eu me vi balançando os braços de forma frenética e um tanto quanto assustadora para quem passava em volta, tanto que as pessoas estavam meio que desviando o caminho na plataforma.
Eu vi um homem de 52 anos que se sente com 30 mas com o físico beirando os 65, cheio de dores físicas, de cicatrizes emocionais de hematomas causados pela vida mas que de alguma forma busca sobreviver a tudo isso se agarrando ao seu trabalho e a sua vontade de fazer a vida dar certo ainda que já tenha certamente vivido mais tempo até aqui do que lhe falta viver.
Um homem que se preocupa com o bem estar da sua família e ainda que não tenha conquistado tudo o que gostaria não se ressente ou apieda-se de si mesmo mas sente muitas vezes uma raiva surda por tantas e tantas rasteiras que sofreu. Um homem que no afã de ajudar foi várias vezes mal interpretado, que sentiu na pele a incompreensão com quem e diferente apenas por ser, não por ter uma agenda dentro desta diferença.
Um homem que canta desenfreadamente porque a música lhe é o único caminho de redenção e mais que redenção é o qe lhe acalma, diminui a ansiedade, o aperto dentro do peito que as vezes parece ter dentro dele uma marreta que desfere golpes potentes e certeiros que vão minando suas forças internas. Eu pude ver que eu canto para estar vivo, não porque qualquer outro motivo.
Eu me olhei e vi que sim, sou uma figura patética, que não gosta da companhia de outras pessoas, que ama ficar sozinho, que sofre com o barulho do mundo a sua volta, que sente dores excruciantes que não pode revelar e ainda sim precisa lutar para sobreviver.
Quando eu me vi naquela noite, eu senti dó de mim. Eu vi que eu era e sou só. Que minhas questões não são entendidas ou compartilhadas por outras pessoas que me resta viver com essa solidão com a ´nica arma que tenho. A música.
É isso.
Ouvindo: Heather and Kirsten
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