quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Aguinaldo Silva perdeu a mão com seu panfleto gay chamado Império


Se eu tivesse a minha disposição o "prime time" (to chique hoje, ou melhor trouxa e abestado) da maior rede de TV aberta do Brasil, uma das maiores do mundo, eu também teria muito a dizer. Aguinaldo Silva, que é o Mestre dos Magos das novelas Brasileiras, faz uso do que tem a disposição de forma notável.  Escreve neste dias um panfleto homossexual que embora elegante e com diálogos palatáveis, não passa disso, um panfleto homossexual.

E Aguinaldo o faz com maestria no sentido que seu panfleto vem embalado como uma sub história dentro de uma história maior que como convém a toda novela é recheada de traições, reviravoltas, mocinhas e bandidos de caráter dúbio. Tudo que o populacho gosta e considera vital em uma trama de novela das 21:00. Atores bons, texto afiado, tudo conspira para que Império seja o sucesso que aparentemente já é, mas o que importa aqui é a tal subtrama.

Aguinaldo em Império dividiu o mundo em dois: Os que são bacanas, representados pelos homossexuais, bissexuais, ou os que simpatizam e acolhem ostensivamente seu estilo de vida (e no caso, não basta apenas aceitar como normal, ser respeitoso, cortês, agir dentro da normalidade civilizada. Tem que apoiar, gritar para o mundo que ser homossexual é que é bacana) e os que não fazem nada disso e logo, são pessoas que representam o atraso, o que o mundo tem de pior, a sua escória intolerante e infeliz que um dia aprenderá que ser gay é que é o que importa, nada mais.

Aguinaldo fantasia que a sociedade carioca, um estado conhecido exatamente pela sua pluralidade acima da média, é regida pelo que lê no blog de um jornalista que além de homossexual, persegue seus próprios pares pois sua sede de vingança é maior do que qualquer traço de objetividade e racionalidade que possa haver. E esta mesma sociedade simplesmente vira as costas para o seu Cerimonialista mais badalado apenas pela revelação de sua homossexualidade ou melhor bissexualidade. Veja, o ramo de festas, e aqui não vai nenhum julgamento apenas uma afirmação baseada em fatos reais, é constituído por uma parcela considerável de homossexuais. E na verdade, ninguém se importa, pois o que interessa é a qualidade do serviço prestado.

Mas no caso de Império, o personagem de Cláudio Bolgari, o tal cerimonialista, teve uma cidade inteira lhe virando as costas. Sua mulher, que aceita suas escapadas de forma natural, foi perseguida em supermercados, em festas, e sofreu um acidente automobilístico por conta dessas perseguições.

O seu namorado, se é que podemos classifica-lo assim, não por preconceito, mas pela dubieza de ambos os personagens, foi impedido de animar uma festa infantil porque as dondocas donas da festa o acusaram de pedofilia. Ora, Aguinaldo, o mundo não odeia os homossexuais, o mundo talvez não vá tolerar a vitimização deles que você promove.

Pois no fundo, é disso que se trata. Na visão de Aguinaldo, homossexuais são seres cômicos, tragicômicos, ou pura e simplesmente infelizes. mesmo a tal Xana, personagem ao qual o bom ator Ailton Graça ainda não achou o tom, dado não a complexidade do mesmo, mas principalmente ao comportamento tatibitate de seu escritor para com ele, consegue ser solar, sendo muitas vezes uma caricatura barata de alguém que poderia explicar o porque alguns homens se vestem de mulher de forma leve e atrair a simpatia do público pelo motivo certo.

Aguinaldo prefere ser didático como no capítulo de ontem, quando explico de forma "detalhada", ou quase, o porque o personagem não era pedófilo sendo basicamente porque "ele prefere homens mais velhos". Ora, se é pra ser se é pra mergulhar que seja no profundo, qjuando é no raso só se bate a cabeça no chão, Aguinaldo.

Aguinaldo, enfim, escreve duas novelas paralelas. A trama pelo poder na empresa em que pra variar ninguém trabalha, o ocupados que estão com suas "vendettas" e intrigas é digna de nota, como a muito não se via, ao passo que a outra, a que contém seus didáticos ensinamentos sobre como é legal ser homossexual é apenas entediante na medida que não aprofunda os personagens em suas motivações, angustias e mesmo alegrias que toda pessoa, independente da opção sexual, tem. Aguinaldo construiu até agora, um bando de caricaturas que dizem coisas como a frase de Téo Pereira em uma suposta audiência, que parecia mais o recreio de um ginásio qualquer com alunos folgadinhos e mal educados. Ele disse algo como: " Não existe cura para a homossexualidade". Ok, concordo. Mas  tirante os sectários que graças ao bom Deus são minoria em nossa sociedade, quem não concorda com isso? Perdeu uma chance de ouro, colocando um bordão repisado e nada além disso.

Aguinaldo, perdeu a mão e isso pode lhe custar a novela como um todo.

É isso

Ouvindo: David Bowie

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sobre ontem a tarde


Foram 17 unidades vendidas no residencial. Mais 9 no comercial. Acho números bem expressivos. Talvez um cínico diga que não é nada mais do que obrigação. Eu mesmo, cínico incorrigível que sou sempre digo para mim mesmo que é isso mesmo: Nada mais que obrigação.

Fato é que ontem a tarde, passando em frente ao Florida Penthouses e também do Landmark, dois empreendimentos que vendi na mesma época e que estão na verdade no mesmo terreno desmembrado lembrei do tempo que eu era alguém.

Não por conta de grana. Estou e sempre estive cagando e andando pra dinheiro. Mas por ter vendido um empreendimento daqueles que marcam a vida de um corretor que dele participa. Me orgulho demais de ambos. Me orgulho demais de ter ligado para um, cliente as 23:00 e te-lo tirado da cama dizendo que estava fazendo "bobagem" de não ter ido participar do lançamento do Land. Me orgulho mais ainda de as 00;15 e  cara ter chegado com a mulher com cara de brava e terem fechado ali, na hora, quatro salas. Isso marcou. Me fez sentir, basicamente para mim mesmo, especial, um cara que sabe o que faz quando o assunto diz respeito a sua profissão.  O dinheiro? Gastei com bobagens, provavelmente, mas e dai? O ganhei honestamente e tinha o direito não?

No Florida também tem história. Vender para um casal de velhinhos tão simpáticos quanto idosos e saber que ainda moram lá, pois os vi caminhando em direção ao prédio, mãos dadas, curvadinhos, porém ali, dignos, como um casal de eternos namorados, me fez feliz. Quis cumprimenta-los, mas fiquei com vergonha. Fiquei com medo de não ser reconhecido, pois confesso, sei que não sou uma pessoa marcante quando faço algo de bom, apenas quando cago, porque são cagadas tão grandes que entram pra história.

Mas quando faço as coisas certas, também não as faço esperando reconhecimento, faço porque é assim que as coisas devem ser feitas, da maneira correta. Mas este casal, que na época já tinha por volta de 70 anos, mas era ( e ainda deve ser tão cheio de vida), me emocionou por apostarem em um empreendimento que demoraria três anos e meio para ser entregue ao qual diziam que seria sua última moradia. Fiz questão de escolher a melhor unidade possível, com a melhor vista, com o melhor preço que fosse possível conseguir, não porque não tivessem condição de pagar, mas para ser justo. E  consegui. E eles ficaram felizes.

E ontem ao passar por lá e coincidentemente vê-los, meu coração disparou. Por que existem vendas que a gente faz  e nem lembra no dia seguinte, mas existem algumas poucas que nos marcam, nos emocionam, nos fazem sentir-se pleno de orgulho, trazem uma alegria incontida, um sei lá o que... Talvez a palavra seja felicidade.

E sentei no banco do ponto de táxi que tem em frente. E olhei para o empreendimento, lindão, imponente, como uma bela mulher que se mostra, (ou duas, já que são duas torres), e lembrei do tempo em que eu andava naquele terreno, primeiro em uma barraca, depois em um imponente plantão e fiquei um bom tempo pensando na vida, nas coisas que fiz e nas que não fiz.

Claro, não cheguei a conclusão alguma, afinal não sou uma pessoa de concluir pensamentos.Quando acho que me apeguei a um logo outro vem de assalto e rouba minha atenção, mas ontem a tarde, eu definitivamente me lembrei do tempo que eu era alguém, era reconhecido pelo nome, tinha reconhecimento.

Hoje trabalho em em uma empresa em que sou apenas mais um. Se antes eu tinha uma diretora que me abraça toda vez que me via, hoje tenho um que nem me cumprimenta, provavelmente de tão ocupado que é. Não perco o sono obviamente por conta disso, mas quando passo ao lado de empreendimentos que me marcaram, como o Florida Penthouses. um misto de conforto e saudosismo me invade. Lembro que um dia, já fui alguém.

É isso.

Ouvindo: Michael Bublé

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Suzane Von Richthofen, a Assassina. Suzane, a Manipuladora. Suzane, a Crente. Suzane a Lésbica


Não paciência, disposição e sobretudo competência para  traçar um perfil psicológico de Suzane Von Richthofen. Seria pretensão demais até para mim que vivo a pretensão máxima de que sei escrever alguma coisa quando não sei, mas estas linhas que agora estou digitando falarão sobre algumas facetas aparentes da moça que matou os pais (ou mandou matar) e saiu de rolê.

Suzane, Assassina. Sim, ela foi a mentora do assassinato dos próprios pais. Por um motivo torpe: DINHEIRO. Isso foi provado nos autos do processo de julgamento que culminou com  sua prisão. Os irmãos Cravinhos, dois bobocas úteis aos seus planos, sendo um o seu namorado, também mofaram na cadeia até conseguirem a progressão de suas penas, mas ainda estão oficialmente presos. Sobre a faceta assassina de Suzane não há muito o que dizer. Tudo foi dito, provado e ela se ferrou, pagando pelos seus crimes até agora.

Suzane, a Manipuladora.  Bom sobre esta da pra escrever um tratado de psicologia falando sobre o tópico " A arte de manipular" Ela nasceu para tanto, tem o dom, o talento inato de manipular mente e corações de quem quer que seja. Uma sociopata em sua mais perfeita definição. Não existem regras de convívio possíveis de serem obedecidas por alguém como ela. Ela sempre vai querer quebra-las, não por que não concorda com elas necessariamente, mas porque quebrar regras é o âmago da vida dos sociopatas. Teatralizar seus sentimentos ao máximo para arrancar piedade e compaixão dos outros é com ela mesmo e suas aparições na mídia são cercadas deste elemento teatral que busca desesperadamente mostrar a pessoa que ela não é.

O egoismo de Suzane é evidente em cada palavra, cada gesto que ela produz em cada fibra de seu ser vibra a nota do egoismo de forma forte e acentuada. É incapaz de sentir pena do próximo. Matar, roubar, enganar, são para ela apenas apenas meios de chegar ao seu fim, não haverá remorso em seu coração depois de cometer cada uma das ações elencadas acima simplesmente porque pessoas como Suzane estão sempre certas ao seu modo de ver.  Não importa o que ela faça, ela sempre terá a razão e a sociedade se tentar barra-la seja de forma individual através de amigos ou mesmo parentes, seja através dos mecanismos condenatórios que esta sociedade como coletivo  tenha para enquadrar pessoas como ela terá dela apenas o seu desprezo e ódio. Suzane não está nem nunca estará pronta para viver em sociedade novamente. é uma doente e deveria ser tratada como tal.

Suzane, a Crente. Quero me deter neste tópico por um instante. Muito se tem dito que as crentes da prisão onde está Suzane não prestam por terem a expulsado da cela em que convivia pelo fato de ela ter "casado" com uma mulher. Falácia da mais imbecil convenhamos. Crentes devem sempre acolher assassinos, estupradores, ladrões, estelionatários e qualquer outra espécie de criminosos. Assim manda a palavra do Senhor. Não cabe aos crentes pedirem um laudo psicológico de Suzane para a acolherem em sua cela caso ela diga que se converteu. Se ela manifesta o interesse na conversão e em seguir a palavra de Cristo é o que basta. É assim que a banda toca entre crentes evangélicos e acabou.

Dai o que se diz agora é que enquanto ela era assassina podia ficar entre elas, agora que "virou' lésbica, não. Sem hipocrisia ou tentar amaciar o discurso, é exatamente isso mesmo. Assassina que se converte ou diz que se converte pode ficar sim. No entanto para os crentes, e eles tem todo direito de pensar assim, Homossexualismo é pecado e pronto. Se trazido a público, cabe aos crentes orarem pelo pecador, mas mante-la na cela seria uma quebra de regra interna que não pode ser permitida. é assim que é. Usar este ato como uma forma de fomentar o ódio entre crentes e homossexuais é desonestidade intelectual das mais graves, é triste, imbecil e um inútil exercício de maldade contra os cristãos. Não vai abater a moral dos crentes, pois eles sabem muito bem porque ela saiu da cela reservada aos cristãos e não estão errados. Aqui, se vê mais uma vez um calculo frio por parte de Suzane, ao tentar jogar a comunidade Cristã no vil opróbrio  apenas para chamar a atenção para si mesma. Tem que ser muito tosco pra cair numa cilada primária dessas. Suzane, um sociopata reconhece o outro então querida, você esta indo pelo caminho errado. (Não resisti a enxertar esta frase auto depreciativa).

Suzane, a Lésbica. Sobre esta faceta só posso dizer que ela tem um tremendo mal gosto. Escolheu a ex de Elize Matsunaga, quando a própria Elize é muito mais gatinha. Falar o que? Além de sociopata, é burra. Não merece nem de longe, o ibope que tem. Merece é uns tapas na fuça, isso sim.

É isso.

Ouvindo: June Carter Cash

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Quando eu voltar a ser criança

Esclarecimento: Este post não tinha a menor condição de ter outro nome que não este que recebeu, então imploro desde já perdão  de joelhos a memória de Janusz Korczak por ter me apropriado  do título de seu magnífico livro para nomear um post tão banal.

Quando eu voltar a ser criança a primeira iniciativa que tomarei será ter um pote lotado de bolinhas de gude. Um pote grande, bem bonito com bolinhas de todas as cores e variados tamanhos. Eu brincarei o dia todo com ela, ou ao menos, grande parte do dia. Terei também uma bicicleta e com ela apostarei corrida com meus amigos que moram na minha rua. Procuraremos uma rua que tenha uma ladeira bem legal para embalar e nos proporcionar velocidade e "zum"!!!! lá fomos nós rua a baixo felizes com nossa aventura.

Por mais que os professores sejam chatos e as aulas massantes, procurarei ir a escola. Na escola, sei que terei problemas pois quando eu voltar a ser criança, serei como eu já havia sido antes, eu acho, e dai, serei uma criança um pouco encrenqueira. Os professores me detestarão pela minha capacidade de fazer as tarefas rápido e porque ficarei conversando o tempo todo depois de termina-las e eles não suportam isso. Mas e dai? Quando eu voltar a ser criança não me importarei se os adultos estão zangados ou não.

Quando eu voltar a ser criança tentarei me cuidar e não ter Meningite como tive. Algumas pessoas acham que fiquei meio retardado por conta dela e não as culpo. Na primeira vez que fui criança eu realmente parecia ter algum grau de retardamento que me impedia de interagir com as pessoas da forma  mais apropriada e quando eu voltar a ser criança, não voltarei para arrumar algo que eventualmente ficou bagunçado. Voltarei para ser uma criança mais feliz.

Se eu não pegar Meningite, minha irmã Fernanda, aquela que já morreu, não será infectada por minha causa e continuará viva, o que me dará a chance de brincar bastante com ela e te-la como irmã quando eu novamente for adulto. Ser adulto é chato, mas não dá pra ser criança a vida inteira né? Se desse... Bom, de qualquer forma, seria uma fase boa se eu conseguisse me cuidar e não pegar a tal da Meningite, pois ter minha irmã por perto era tudo o que eu mais queria.

Porque dai a gente poderia correr e pular e gritar e iríamos explorar o mundo de uma forma única. Seriamos os irmãos exploradores, e quem sabe poderíamos viver mais aventuras que Julio Verne e é claro brincaríamos com minhas bolinhas de gude. Eu só dividiria minhas amadas bolinhas se fossem com ela. Nunca fui egoísta em relação a nada, mas com minhas bolinhas eu teria o maior xodó e só a Nanda poderia mexer nelas além de mim.

É que talvez ela preferisse brincar de bonecas até me lembro que no curto espaço de tempo em que ela ficou comigo, ela tinha várias, todas loirinhas como ela. E uma tinha cachinhos. Quando ela morreu da primeira vez, (porque se eu conseguir voltar a ser criança ela vai viver de novo) eu fiquei agarrado na bonequinha de cachos por muito tempo até o marido da minha mãe começar a me chamar de "mulherzinha", dai com meu pequeno orgulho de criança ferido, eu peguei a boneca e joguei em um bueiro. Isso me lembra que quando eu voltar a ser criança, tem que ser em Guarulhos, na Rua Mário e e eu tenho que dar um jeito de abrir a tampa deste bueiro pra pegar a boneca. A Nanda amava esta boneca e quando ela voltar não vai gostar nada de não vê-la na caminha que ela dormia.

Eu acho também que quando eu voltar a ser criança vou tentar empinar pipa. Nunca gostei, mas tentarei gostar desta vez. Sei lá, quero fazer coisas diferentes. Posso ensinar a Nanda a empinar também, porque eu sabia empinar, apenas não gostava, e talvez, se não for muita pretensão pra uma criança quero ensina-la a ler e escrever. Eu aprendi com cinco anos, ela como já era e novamente será muito mais inteligente que eu, aprenderá aos três, no máximo.

Direi a todas as pessoas que eu gostar que eu gosto delas, porque eu quero que elas saibam. Se algumas delas não gostarem de mim, o que é bem provável, eu espero que elas me digam também, assim eu posso ficar longe delas sem incomoda-las, afinal eu sei bem que adultos detestam ser incomodados. Quando adultos brigarem comigo pedirei imediatamente desculpas. Não quero ficar com a impressão que sou uma criança mal educada, então, eu sempre pedirei desculpas.

Ensinarei minha irmã também a jogar bola. Ela era tão delicada que talvez estranhe no início, mas sei que logo ela pegará gosto. Talvez jogue até melhor que eu porque minha irmã estava destinada a coisas grandes na vida eu hoje por exemplo sou um mero corretor de imóveis, ela com certeza se estivesse no ramo, seria diretora de alguma imobiliária grande já e eu teria muito, mas muito orgulho dela. Se ela não tivesse de mim, tudo bem, não estou muito certo se mereço que alguém se orgulhe de mim por qualquer coisa que seja.

Uma providência importante seria realizar alguma tarefa que eu conseguisse ganhar algum dinheiro, não muito, apenas o suficiente para comprar um coador pequeno para quando eu fosse tomar café com leite. Passei minha primeira infância inteira tomando leite com nada porque as pessoas nunca se importaram em coar para mim o leite e o fato de eu odiar nata com todas as minhas forças nunca mudou este quadro. E é claro que eu coaria para minha irmã também, afinal, ela certamente não gostaria de nata, mas não tive tempo de saber, pois ela morreu logo, antes de poder formar uma opinião definitiva sobre este detestável rejeito de leite.

Há tem tanta coisa que eu queria fazer quando eu voltar a ser criança!!! Tanta!!! Não saberia talvez por onde começar, exceto que ao acordar no primeiro dia de minha nova infância eu queria acordar no momento exato em que minha irmã abrisse os olhos grandes e coloridos e o seu melhor sorriso e me chamasse de Davizinho. Pronto! se não desse pra fazer mais nada do que planejei pra quando eu voltar a ser criança, apenas isso, uma vez que fosse me bastaria e eu poderia morrer em seguida, pois ser adulto novamente depois de ser criança pela segunda vez seria insuportável!

É isso.

Ouvindo: Soul Parsifal


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Deu Dilma. Deu Ruim. Mas agora ela é Presidenta e a democracia se faz assim



Dilma, a defensora dos fracos e oprimidos (na versão dela é claro), foi reeleita. Não há o que fazer. Ela ganhou e golpismo não cabe. Nem que seja através das mais absurdas teorias. Ela ganhou, ponto final é a minha e a sua presidente pelos próximos 4 anos. O PTralhas triunfaram.

Não cabe aqui amaldiçoar a porção Nordeste de nosso país, em que pese que é óbvio que a grande maioria da população de lá seja sim dependente de algum tipo de "bolsa", ainda sim, não é correto demoniza-los (embora a título de galhofa já tenha feito isso ontem). A questão é que não foram os PTralhas que inventaram a pobreza endêmica que assola o Nordeste e nem foram eles que inventaram a corrupção que suga todo o dinheiro dinheiro que poderia desenvolver a região.

Eu fui eleitor de Aécio. Não porque ache que ele seja o melhor nome entre todos, mas porque acho que entre ele e Dilma ele de longe é muito mais qualificado. O povo não entendeu assim. Paciência. Em um quadro como esse só resta a resignação e a esperança que como dizia Tiririca, o Pândego, "Pior que está, não fica"

Mas sabemos que pode sim, ficar muito pior. Dilma não tem pulso para lidar com a corrupção. Seu partido é mais forte que ela, muito mais e seu padrinho, o homem dos 9 dedos, é absolutamente conivente com a mesma e ainda manda muito mais que qualquer um. Estamos, todos nós, inclusive os que nela votaram, em maus lençóis.

Criticar apenas a figura de Dilma chega a ser algo bobo, porque qualquer pessoa com o minimo de inteligência sabe que ela é apenas parte de uma engrenagem. Ninguém da desfalques milionários em uma empresa como a Petrobras se não houver uma ação coordenada entre várias pessoas e departamentos. Não existe forma de comprar uma refinaria em outro país lesando os cofres da mesma Petrobras se muito mais gente além de Dilma não estiver envolvida. da mesma forma que é impossível que a tese de que ela de nada sabia seja levada a sério. Claro que ela sabia, bem como todos os seus asseclas também sabiam, então, a responsabilidade pelos mal feitos tem que ser dividida e Dilma é claro levar a maior parte, mas não a culpa toda.

Quando pensamos também no nível de abstenções nesta eleição, fica ainda mais difícil criticar quem quer que seja, já que a vitória de um ou de outro candidato depende basicamente de uma militância ativa. Quando esta militância prefere aproveitar o Domingo absorta em seus afazeres e deixa seu candidato a ver navios, não tem o direito de reclamar de qualquer resultado que seja.

Vilipendiar o Nordeste não é algo que qualquer Brasileiro deva fazer, pois somos todos filhos de uma mesma nação e não temos conflitos étnicos que assaltam outros países. Não precisamos desta cizânia em um momento delicado como o que o país vive. Não prego aqui a união geral e irrestrita, não somos cordeirinhos e nem é bom que sejamos, mas temos que respeitar as instituições e quem as representa. Ao menos até que fique irrespirável o ar por conta de tantos desmandos.

Dilma precisa virar o jogo. Precisa se livrar do padrinho que vive "encharcado", andar com as próprias pernas e principalmente ser absolutamente intransigente com a corrupção e todos aqueles que a praticam, sob pena de ver seu segundo mandato naufragar de forma irreversível. Torço por Dilma agora, pois ela é a comandante. Meu medo é que ela resolva se tornar algo além disso, como por exemplo a "Grande Timoneira". Deus me defenda de tal destino.

É isso

Ouvindo: The Cramberries

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Vida alheia


A vida alheia não me interessa. Exatamente por ser alheia, não a minha. Da um trabalho danado ser eu e me importar com o que se passa com as outras pessoas tomaria um tempo muito grande, o que tornaria inviável eu conseguir ser eu mesmo em total plenitude.

Mas para além do projeto de ser eu mesmo todos os dias, cuidar da vida alheia me irrita porque nunca, ou quase nunca melhor dizendo, pois não gosto de cravar absolutos, olhamos para a vida alheia com um olhar de ternura, ou com a intenção de ajudar, ou qualquer outro sentimento que seja. Queremos saber da vida alheia para que em comparação a nossa a do outro pareça pior e assim nos sintamos melhor.

Existem é claro pessoas que se compadecem de outras, mas vamos falar do geral, das pessoas que simplesmente querem saber da minha vida, da sua, da vida do Príncipe Charles, do Zezé, do Luciano, apenas por uma tara que beira o voyevourismo, algo insano que desabilita a busca pela própria felicidade na ânsia de buscar a infelicidade do outro. Um processo com o qual eu não consigo me acostumar, porque se eu não tenho solução para a vida alheia, porque querer saber detalhes e pior depois de descobri-los, espalha-lhos sem dó nem piedade?

Porque saber da vida alheia é só o primeiro passo na desconstrução do outro. Importa, depois de saber, espalhar, espicaçar, fazer com o número máximo de seres humanos saibam das fragilidades ou defeitos que conseguimos cavar de alguém, mesmo que este alguém não nos diga o menor respeito e nem o conheçamos pessoalmente.

Pouco importa se  este processo magoará, ofenderá, causará uma exposição que além de desnecessária possa ser devastadora na vida de alguém o que importa é que a sede por fofocas, intrigas, maldades, enfim, seja satisfeita. Cuidar da vida alheia da aquela sensação de poder, de fiscal do outro, de dono do mundo, mesmo que este mundo seja completamente ilusório.

Existe também a questão de que falar da vida alheia não é apenas um exercício de  maldade passa também a nos fazer de conselheiros e juízes. Sempre temos a melhor solução para o problema alheio mesmo que não conheçamos todos os precedentes, mesmo que não consigamos ver com a amplitude que só quem passa na pele por uma situação pode ver, mesmo com todas as limitações possíveis, nos achamos no direito de sermos conselheiros e pior juízes.

Pois julgamos o outro confirme a nossa régua, ainda que ela não se aplique ao outro. Julgamos sem medo de parecer ridículos, porque é evidente que julgar alguém, quem quer que seja, além de ser um exercício inutil sempre será algo impreciso, já que não existem elementos suficientes para se julgar e muito menos condenar a pessoa como sempre acontece, já que julgamos não para absolvição e sim para a culpa.

A vida alheia, para terminar, é algo que jamais deveria dizer respeito a quem quer que fosse a menos que haja um convite para tanto e mesmo quando alguém nos pede uma opinião sobre determinado assunto, deveríamos ter a leveza e a nobreza de não falarmos mais que o necessário e nem nos arvoramos de árbitros de sua vida e ainda mais importante: Deveríamos pesquisar a nós mesmos antes de responder, para que tenhamos a segurança de que falaremos sobre o que estamos aptos a falar, caso o contrário serão apenas palavras lançadas ao vento, sem efeito algum.

É  isso.

Ouvindo: Priscila Barcellos

sábado, 18 de outubro de 2014

A bailarina e sua menina


Do momento em que ela veio ao mundo, já sabia qual seria o ofício, o da dança. Mas vejam, não seria de forma alguma lhe facultado o direito de dançar o que bem quisesse, quando quisesse. Bailarina clássica, de sapatilha e todos os outros adereços que lhe compunham um visual inequívoco quanto ao que era, só podia dançar uma única música. E pior, só podia dançar quando lhe concedessem permissão para tanto. Não para sua alegria, mas para ventura de outras pessoas, que logo se enjoavam de seu bailado limitado pelo espaço de uma caixa de música e buscavam diversões outras enquanto lhe esqueciam  por dias, meses e as vezes, anos, em cima de uma penteadeira ou no fundo de uma gaveta.

Quando seu criador a fez, certamente imaginou-a fazendo a alegria de alguma criança, uma jovem talvez, que ao vê-la bailando ao som de "Pour Elise" se emocionaria e talvez com os olhos marejados desejaria ela mesma ser uma bailarina alçando voos simétricos e coordenados nos braços de seu parceiro pelos palcos estrelados do mundo.

Mas esqueceu-se ele, seu criador, que toda criatura limitada a fazer sempre a mesma coisa, quando lhe ordenam, não pode, mesmo que consciência nela não haja, ser feliz. Pois a felicidade reside no poder fazer o que se quer, quando se quer e para quem se quer. A dança presa, limitada a um minúsculo espaço, se torna atrofiada, triste, melancólica, pálido borrão do que poderia ter sido, movimentos mecânicos que se tornam mero contraponto ao que se espera da arte, que ela seja livre, fluida, inesperada e por este motivo, surpreendente.

Mas ela dançava  sempre que solicitada. Sempre indo pelo mesmo trilho previamente traçado. Não aguenta mais "Pour Elise", mas desenvolveu uma resignação que lhe mantém se não viva, pois é apenas uma boneca de caixa de música, dançante, por assim dizer. E dançante, ela segue, e talvez uma pontinha de orgulho ela sinta ao perceber que aquela senhora que de tempos em tempos da corda aos seus movimentos é aquela mesma menina que muito tempo atrás recebeu das mãos de outra senhora, (que ela nunca mais viu), provavelmente sua mãe, a caixinha em que ela repousa e ela percebeu no exato momento em que seus olhos se cruzaram, um brilho diferente nos olhos da garota, um misto de admiração e felicidade genuína, um sorriso leve e doce, que a senhora já não consegue mais reviver quando abre a caixa.

E para sua estupefação, percebe que compartilham apenas a mesma resignação surda e silenciosa. Ambas ao se fitarem, em sua insuspeita cumplicidade tem apenas resignação a oferecer uma a outra, nada mais. E ela, como lhe cabe, dança.

Mas um dia quando sua dona abriu novamente a caixinha, ela enquanto dançava se pôs a recordar de sua vida e da vida de sua dona. Sim, quando ela parar nas mãos miúdas daquela menina de olhos azuis imensos, ela viu a felicidade e se congratulou  por ter uma dona tão linda. E quase todos os dias ela dançava e dançava e dançava, quase até a exaustão ela dançava sem reclamar pois a menina era feliz e isso já lhe era suficiente, era a felicidade da menina, a sua felicidade possível, no mar de indignação por ser apenas um ser tolhido aos mesmos movimentos eternamente. Era aquela menina, e apenas aquela, que a mantinha "viva".

Naquele mesmo dia, ela lembrou -se que outra meninas e mesmo meninos a tinham pego nas mãos. Algumas eram puro desprezo por sua dança, outras eram como que hipnotizadas por seus movimentos. Mas o que lhe importava mesmo era a "sua menina" e a "sua menina" ela percebia, ia crescendo e os intervalos entre suas danças eram cada vez maiores, até que ela percebeu que sua menina tivera a sua própria menina e lhe era muito mais importante cuidar dela do que limpar e dar corda a uma simples boneca limitada a um circuito de dor e tristeza embaldo por "Pour Elise". E a sua "vida" ficou quase que insuportável.

Mas de uns anos para cá, até flagra-se neste dia especifico ao que me refiro, ela percebeu que sua menina agora era uma senhora. Seus olhos permaneciam imensos e azuis, um Pacífico oceano que ela ainda amava contemplar. Mas a menina, como eu acabei de dizer, era agora uma senhora e uma senhora que tossia, as vezes falava sozinha e que agora morava em uma casa diferente da que sempre morou. Com outras senhoras, outra penteadeira e aquela menina que era amenina dela, as vezes ia apressadamente visita-la, sem tempo para sua dança. Sempre corrida, ela mesmo com uma menina e um menino a tiracolo com quem ela sempre gritava enquanto falava em um telefone, como era mesmo o nome daquilo? Celular... Isso, sempre falando em um celular, enquanto a minha menina, que agora era uma senhora, tentava lhe obter atenção, sem sucesso.

E voltando a este dia especifico de dois parágrafos atras, foi um lindo dia. Começou ensolarado mas ali pelas 14 horas uma chuvinha caiu. E a sua menina, agora senhora, a pegou. E ela intuiu que seria a última vez. Não sabe bem explicar porque mas intuiu que assim seria. E então, algo aconteceu. Algo que só pode acontecer no mundo do fantástico. Naquele dia, ela não dançou  "Pour Elise". Ela dançou "A morte do Cisne". E foi lindo. Ela se projetou da caixinha, como num passe de mágica, ela estava no quarto com sua menina, que agora havia voltado também magicamente a ser sua menina,  e ambas dançavam e celebravam a vida através da morte, e perceberam ambas que estavam prontas para a única redenção possível para os abandonados: a sua própria morte. E depois de muito dançarem, exaustas se sentaram e se abraçaram e mutuamente se confortaram e ela percebeu que sua menina estando pronta, lentamente fechos seus lindos olhos azuis, e aquele pacífico Oceano nunca mais verteria lágrimas de alegria ou tristeza, pois já não havia mais nada para se sentir.

E ela também se sentia pronta. Pronta para enfim para de dançar. Descançar, no fundo de uma gaveta, esquecer "Pour Elise" e jamais amaldiçoaria novamente Beethoven por ter escrito tal peça, embora no fundo ela soubesse que culpa alguma havia nele e sim no seu criador por ter escolhido uma única música para que ela dançasse.

E quando vieram enterrar sua menina, surpresa das surpresas. Ela havia pedido apenas uma coisa para seu pós morte: Que colocassem  sua caixinha com sua bonequinha em seu caixão, para que juntas fossem descansar. Não coube em si de felicidade, mas a menina de sua menina, antes que a colocassem junto a sua dona, percebeu que a sua própria menina, que era uma cópia perfeita de sua mãe quando menina, chorava por querer a caixinha para si. E quando a entregaram para a menina neta da sua menina, ela percebeu o mesmo encanto, o mesmo sorriso, as mesmas mãos miúdas e se sentiu feliz. E percebeu que dançaria "Por Elise" para ela quantas vezes se fizessem necessárias. E sabia no seu íntimo de boneca que não haveria algo que deixaria a sua legítima e primeira dona mais feliz.

E no enterro de sua menina, quando a neta dela abriu a caixinha e deu corda e todos a viram dançar por seu trilho limitado, ela se sentiu a maior bailarina de todos os tempos e finalmente se descobriu feliz!

É isso

Ouvindo: Maria Callas