terça-feira, 19 de novembro de 2024

Minha Mãe Não Me Ensinou a Chorar

 

Eu não sei chorar. Não pelo que realmente importa. Choro quando vejo um filme, choro quando leio algo muito bonito e bem escrito, choro até em comerciais de TV  que façam alusão ao dia dos pais. Choro quando vejo injustiças sendo perpetradas, quando vejo pessoas indefesas sendo atacadas sem poder revidar. Choro quando uma música é tão bela e tão bem interpretada que não vejo outra saída além de me debulhar em lágrimas. Sim, eu choro. Por muitas coisas eu choro. Mas não sei e não consigo e talvez nunca aprenda a chorar por mim.

Se eu sou o injustiçado, eu não choro. Se eu sou o agredido, revido, mas não choro. Se me machuco, fisicamente falando, também não choro. O choro não funciona para mim. Eu só sinto uma imensa raiva. Uma raiva que me perpassa o corpo de ponta a ponta e me faz querer quebrar objetos ou a cara de quem estiver por perto, mas não consigo chorar.  É como se minhas emoções não fossem dignas de choro, seja meu para mim mesmo seja dos outros por mim. Chorar por mim é algo minha mãe não me ensinou dentre tantas e tanas coisas que só sei graças a ela. Não que eu a esteja culpando, mas eu gostaria as vezes, do alívio que o choro traz.

Outro dia pela manhã eu vi uma mulher  no trem  sentada na minha frente. Ela chorava litros e mais litros e foi assim de Osasco até Pinheiros. Curiosamente, ela desceu comigo e parou de chorar. Olhei em seu rosto e vi a face do alívio. Vai uma pessoa que se esvaziou por ter chorado e ali, se eu soubesse chorar, teria chorado de raiva de mim mesmo.

Hoje eu precisava chorar. Precisava  ter sentado no chão com os braços entrelaçando os joelhos e a cabeça afundada ali enquanto meus olhos pareceriam uma cachoeira de lágrimas. Eu precisava ter derrubado um aquífero Guarani em forma de choro e precisava que ele fosse um choro sentido, cheio de soluções, quase teatral mas também real, sincero com a sinceridade que só a dor traz. Mas não consegui. 

Do aquário onde fico contemplei o transito se desenrolando desenfreado, as pessoas comprando carnes para o feriado de amanhã no açougue chique em frente ao plantão e vi os funcionários da obra tão aplicados em seus afazeres que creio que nem se lembravam que eles existem, que são pessoas, que tem sentimentos. Corriam como formigas ordeiras e aplicadas abrindo um buraco cada vez mais fundo e enquanto outra turma de formigas jogava concreto em outro lado deste mesmo buraco. Um balé sincronizado porém nada poético.  Repetitivo, sem emoção e enquanto eu olhava eu explodia de desejo de que ao menos uma gota caísse dos meus olhos, mas apenas a raiva crescia e ainda cresce no dia de hoje. 

Não sei quanto de raiva posso armazenar dentro de mim mas sei que se houvesse medição para isso seria muita raiva, seria uma concentração que poderia caso fosse explosiva botar o bairro do Morumbi para voar com suas casas que parecem tão luxuosas quanto assustadoramente  solitárias e vazias. 

Eu hoje quis chorar e não consegui. Ainda quero, mas não conseguirei. Quando me deitar para dormir, meu peito em chamas vai se acalmar porque afinal, o dia terá acabado e outro vai se iniciar enquanto eu durmo. Minha mãe não me ensinou, mas eu quis chorar. Por mim, por minhas frustrações, por minhas derrotas, por meus fracassos, por tudo que eu não alcancei e sei que não alcançarei.

Eu quis chorar, Não deu. Paciência.

É isso.

Ouvindo: Commissioned

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Janja Mandou Elon Musk Se Foder. Janja, Que Tal Você Ir Se Foder?

 

O Brasil, salvo a fabulosa Ruth Cardoso, que além de uma intelectual brilhante, professora universitária, ativista em prol dos direitos humanos e tantos outras atributos, foi uma fantástica primeira dama, tem um histórico infeliz, pobre mesmo, de ocupantes do posto. Basta lembrar de Rosane Collor, Dulce Figueiredo e tantas outras que nada acrescentaram  e sequer fizeram jus ao status de ocupantes do cargo, sendo nada mais que presidentes honorárias da tal LBA (Legião Brasileira de Assistência), (não confundir com a LBV do infame José de Paiva Neto). Que de assistência não tinha nada, mas de sorvedouro de dinheiro público...

Claro que não posso deixar de mencionar Michelle Bolsonaro a pateta que antes de se casar com seu marido nada mais era que uma groupie de deputados,  tal qual uma Bebe Lorence Buell, mãe da mulher mais linda que já existiu na face da Terra, Liv Tiller, e fruto do relacionamento de Bebe com Steven Tiller. Steven que apesar de ser um junkie como poucos não era burro contribuiu positivamente para a raça humana em seu relacionamento, ao passo que Bolsonaro, velho babão e imbecil só conseguiu ser fisgado por uma groupie de quinta categoria. Cada um tem o destino que merece, afinal de contas.

Quando enfim Michele e seu marido abobalhado desocuparam o Palácio do Planalto esperei com curiosidade por Janja. A primeira dama dos primeiros 2 mandatos de Lula, Marisa, era absolutamente limitada intelectualmente, quase uma porta falante, mas ao menos não era dada a arroubos verborrágicos e se mantinha fora, uma ou outra derrapada "na sua". O que no nesse caso já é de se levantar as mãos aos céus em silente alívio.

Rosângela, ou  Janja para os íntimos (toda a imprensa que cobre o Planalto), é uma Socióloga, ou diz que é, que acha que é a presidente do Brasil de fato. Ela não dá trégua. Sua verborragia é além de infeliz, inculta. Sim, inculta. Fosse Janja uma pessoa que exibisse saberes reais, que a colocassem em um patamar professoral, que ao abrir a boca expelisse gotas de sabedoria, todos os arroubos de exagero deveriam ser perdoados, mas não é o caso. Janja se guia por platitudes que meu neto de 2 anos já deve em algum momento ter pensado e apenas não sabe expressar de forma concatenada.

Janja despeja atrocidade a cada vez que vê microfones ou qualquer outro aparelho que lhe amplifique a voz. Lula, que a essa altura do campeonato ja se mostra totalmente sem controle do país, não vai conseguir evidentemente controlar a esposa que claramente o coloca para dormir as 23:00 no máximo. Lula é uma sombra do que foi, e se antes se desconfiava que ele era um fantoche de setores mais letrados da esquerda que lhe sopravam no ouvido o que dizer e mesmo o que pensar, hoje é um vovozinho quase gagá que claramente é dominado pela mulher oportunista que arrumou para si. Criolo disse com imensa sabedoria que "não existe amor em SP". Qualquer observador mais atento há de concordar que não existe amor entre Lula e Janja, apenas uma relação abobalhada.

Na verdade pouco importa para mim ou para o país como um todo o nível de amor que existe entre o vovô  Lula e sua mulher, mas importa demais quando Janja extrapola, e foi o que ela fez dias atrás. Mandar Elon Musk se foder? Só a militância mais retardada apoiaria tal gesto. Só pessoas sem a menor educação, sem o menor senso do que seja respeito, aplaudiriam essa atitude boçal e infeliz. Musk pode se ro homem mais rico do planeta, mas a pessoa por trás do personagem não vale 10 e uma cocada. 

Pessoas de bem tem ojeriza ao seu jeito de ser a sua forma torpe de encarar a vida e os negócios e sua sede por subverter tudo, inclusive o que não precisa ser subvertido. Eu já mandei inúmeras vezes Musk se foder, mas mandei em meus pensamentos ou falando com 2 ou 3 pessoas. Jamais mandaria Musk se foder para milhões e milhões de pessoas saberem de forma instantânea. Tem que ser muito sem noção, muito imbecil mesmo e Janja não para de se provar imbecil. 

Eu espero sinceramente que até o fim do mandato de Lula eu não esteja sentindo saudades de Michelle, mas sinceramente to quase. Michele ao menos falava de Deus e quem fala de el de forma vã, com ele vai se ver. Janja fala só abobrinhas e agora passou dos limites pois colocou todo o país em vergonha. Lula, deveria sair do esconderijo do medo que tem de sua mulher e repreender publicamente sua fala e sim, pedir desculpas a Musk por mais que isso seja algo que só uma abilolada como Janja possa conseguir: Dar motivos para o presidente do Brasil pedir desculpas a Musk. Onde chegamos? Onde ainda iremos chegar?

É isso.

Ouvindo: Racionais

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Sou Um Homem De Dores

 

Quando falo de dores, ao menos neste post especificamente, falo das dores físicas que me acometem. Não é uma metáfora para falar de emoções em ruínas, frustrações ou coisa que o valha. Não. São dores mesmo. Falo das minhas panturrilhas que parecem sacos de pancada de academia de boxe. Falo das plantas dos meus pés que formigam, latejam e doem, tudo ao mesmo tempo. Falo do meu estomago sempre revirado que hora me leva ao banheiro por múltiplas vezes ao dia, hora me afasta dele por dias, muitos dias. Falo da minha visão embaçada na maior parte do tempo e me impede de per uma tabela de preços sem ter que recorrer ao zoom do celular. 

Falo de um corpo frágil, a cada dia mais frágil. Sem forças, cada vez mais incapaz de defender-se dos ataques da Diabetes, a verdadeira inimiga que se antes se  mantinha apenas a espreita com ataques ocasionais, agora resolveu se instalar em meu corpo e fazer dele seu escritório e área de atuação. Falo de uma sensação de incapacidade para lidar com a fragilidade física que percebo cada dia mais evidente em mim me tolhendo aos poucos de hábitos e afazeres que antes eram tão banais que nem pensava antes para fazer. Falo de uma vida que a cada dia mais me parece escorrer pelos dedos como a areia de uma ampulheta (objeto que por algum motivo que não sei dizer, sou obcecado), me mostrando a verdade de um tempo que se esgota a cada dia.

Metáforas sobre ampulhetas  e sua areia que escorre são um óbvio sinal de que a vida se esvai aos poucos mas de forma visível. Todos morreremos, é claro, mas a magia da vida ao meu ver esta em não saber quando isso ocorrerá. O mais simples vislumbre de que talvez eu saiba quanto tempo eu tenho de vida me deixa o corpo gelado e uma mistura de medo, tristeza e solidão me invade. Sou conformado com a ideia de morrer mas não quero saber se vai ser hoje as 15:00 ou daqui a 30 anos.

Aos 51 anos, o homem que me tornei, com dores generalizadas, mal estar regular, visão reduzida e um pessimismo sobre tudo que nunca foi meu escancara o conceito de finitude que me parecia tão distante. Me sinto como o carrinho de corrida de um jogo que eu adorava quando criança, o Enduro. Nele, para ultrapassar as fases, era necessário percorrer vários terrenos com neve, com neblina, com chuva e vários outros obstáculos no menor tempo possível, correndo como se não houvesse amanhã. Descobri então, que a diferença entre juventude e maturidade esta entre outras coisas,  em perceber que sim, existe amanhã e que no meu caso, talvez já sejam 23:30 do dia de hoje, ou seja, o amanhã esta chegando e talvez ele, o amanhã, seja o último a ser vivido pois como a água doce, o amanhã é um recurso finito que se mal gerenciado se esvai bem antes do que deveria.

Meu estoque de água e de amanhãs, esta se indo. Não consigo nem imaginar que haja um "depois de amanhã" e talvez me reste apenas mais 30m até que o ponteiro marque o fim do meu hoje. Enquanto escrevo, minhas panturrilhas ardem e o meu peito, esse sim de forma metafórica esta em chamas. Para muitos, descobrir que o fim está próximo traz paz. Para mim, traz angústia e sofrimento.

É isso. 

Ouvindo: Carpenters

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Trump, o Abjeto.

 

Se Donald Trump fosse apenas abjeto, vá lá, tudo bem.  Muitas vezes eu tive, tenho e terei comportamentos abjetos. Se Trump fosse apenas abjeto e mentiroso, tudo bem também. Já menti, minto e mentirei inúmeras vezes. E não, não se trata de forma alguma de normalizar o ser mentiroso ou ser abjeto e muito menos de medir Donald Trump pela régua com  que meço a mim mesmo, isso seria algo tão débil, que jamais partiria de mim.  Trata-se de  apenas  perceber que não apenas eu, mas toda a humanidade tem comportamentos dignos de criticas assim como Trump os tem.

A questão é Trump além de abjeto e mentiroso também é imoral, predador sexual, sorrateiro, espalha mentiras e tem ainda muitas outras características que fazem dele alguém tão  detestável que abjeto é uma boa palavra para sintetizar quem de fato ele é. Alguém cuja repulsa é sempre o primeiro sentimento que ira despertar em pessoas de bem assim que ele começar a falar, ou melhor, vomitar suas palavras sejam elas quais forem.

Hoje, os EUA começam a decidir se querem um ser abjeto como presidente de seu país ou se terão o bom senso de recusar uma pessoa que não tem o menor apreço pela democracia como seu governante. Não se trata de forma alguma de julgar a plataforma de governo na área de economia, ou na área de saúde e educação. Essas são questões importantes demais para um brasileiro como eu  sequer tentar versar se ele se sairia bem ou mal. São assuntos que o eleitor americano esta muito mais apto a julgar.

O que me faz ter ojeriza de Trump é sua tendência descarada a mentira, a fraude, a esconder o que não deve ser escondido, a se comportar em suma, como uma pessoa essencialmente ruim e pior, não se envergonhar de ser como é, ao contrário, ter um orgulho quase insano de ser mal, de ser uma das piores se não a pior figura pública hoje no mundo.

Trump não é folcloricamente mal como Bolsonaro por exemplo, nem um idiota  que se leva a sério como Milei, nosso vizinho que queria ser Harry Potter. A maldade de Trump é genuína, é pensada para ferir. Ele não perde tempo tentando. Seus atos tendem a ser calculados para causar o maior dano possível. Suas falas , sempre recheadas de mentiras são ditas para desestabilizar, manipular, destruir a tudo e a todos que ousarem se opor aos seus desatinos.

Trump é contra vacinas, é misógino, responde por 18 acusações diferentes de agressões sexuais, obviamente racista, sexista e com tudo isso tenta se vender como o maior defensor da liberdade, quando na verdade tudo o que gostaria é de restringir a liberdade a uma quimera distante e inacessível e obrigar a todos não nos EUA, mas no mundo, a viverem na Trumplândia, lugar de gente (in)feliz. A radicalização  da violência é a arma insana e louca que ele quer usar para conseguir a paz. Ainda que para isso precise matar 3/4 da humanidade. Neste sentido Trump me lembra o vilão da Marvel, Thanus, que queria matar metade da população do Universo como forma de estabilizar os recursos naturais disponíveis entre outras disparidades. Antes matar pessoas a ter que diminuir emissões de combustíveis fósseis.

Eu oro para que os EUA não se deixem seduzir por Trump novamente. Kamala não é a candidata dos sonhos como seria Michelle Obama por exemplo, mas ao menos não pretende (ao que parece) dar um golpe de estado ou coisa que o valha. Os EUA estão entre a cruz e a espada ou entre a insossa Harris e o abjeto Trump.  Logo, saberemos quem esse povo que sabemos ser meio abilolado vai escolher.  Da medo só de pensar.


É isso.

Ouvindo Madredeus

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

A Fria e Longa Noite Que Se Aproxima

 

Talvez ela não seja necessariamente fria e muito pelo contrário seja excessivamente quente dependendo de  seu lugar no planeta. Talvez ela não seja noite, seja um dia com chuvas torrenciais e ou com um Sol escaldante que literalmente vai matar a muitos, a milhares, talvez milhões. Talvez seja algo tão catastrófico e incompreensível que mude nossa concepção de dia/noite e tudo se funda em um longo período de tempo indefinido. Talvez as baratas sobrevivam. Talvez, nem elas.

Até que este dia chegue, provavelmente não estaremos mais aqui, podemos muito bem estar já que as mudanças climáticas estão se acelerando a um nível absolutamente inesperado e que mesmo cientistas renomados não conseguem bem compreender. Mas estejamos aqui ou não, esse momento chegará. Nossos filhos, nossos netos e os filhos dos nossos netos, se eles ousarem concebe-los, serão atingidos diretamente por nossos erros ou no caso da grande maioria da população por nossa passividade. 

Erros daqueles que comandaram e ainda hoje comandam o mundo e passividade dos comandados que aceitam tantos desmandos sejam eles políticos, sejam eles decisões que acabaram por afetar o clima em nosso planeta até o ponto do irreversível. Sim, é praticamente impossível mudar a situação atual e o mundo, em compasso de espera, vai sofrer as consequências. Claro que os ricos sofrerão menos, como sempre foi em nossa história e claro que os miseráveis serão os primeiros a perecer diretamente afetados pelo caos. Homens e mulheres vendo seus filhos e a si próprios morrerem de fome, de sede, de frio extremo, de calor extremo, por conta de pandemias... Bom, escolha você na lista de desgraças, alguma delas se abaterá sobre cada um de nós.

A esperança não me acalanta mais. Visto por olhos humanos e descrentes o mundo como acabei de dizer apenas aguarda enquanto marcha para a morte. Não existirão ET'S desembarcando em naves espaciais para nos resgatar. Não haverão soluções mágicas para anos de desmatamento desenfreado, de aquecimento global que poderia ter sido evitado, de contaminação de nossas fontes de água potável. 

Sinto dizer que ao contrário do que acreditam Caetano, Betânia e Milton (de Milton é a minha versão preferida), um índio não descerá de uma estrela colorida e brilhante. E se descer, vai tratar de embarcar  rapidinho novamente para  fugir dos gases tóxicos que certamente encontrará por aqui. O axé do Afoxé  filhos de Gandhi será apenas uma lembrança distante e para alguns, saudosa. Nem a mais avançada das mais avançadas das tecnologias vai ser capaz de nos livrar da desdita que espreita a poucos metros em nosso futuro. 

E essa desdita que nos aguarda, nem terá que nos atacar. Cairemos em seus braços, empurrados por nossas próprias escolhas e poderemos observar de forma horripilante como ela nos devorará sem dó e sem pressa, afinal, o tempo, relativo como é, corre imponente independente dos seres humanos que estão ou não aqui neste minúsculo planetinha azul para observar a sua ação.

O mundo como conhecemos hoje que foi e em grande medida ainda é, tão lindo, é um mundo condenado a cada dia ver sua beleza se extinguir, desaparecer como lagrimas na chuva, uma chuva que em breve estará tão ácida que vai acelerar nosso fim. Estamos fadados a morrer, isso é evidente, nascemos sabendo que morreremos, que temos um tempo de validade determinado. Só não precisávamos ter contribuído tanto para nossa própria morte.

A fria e longa noite que se aproxima de nós, enquanto fingimos não ver, enquanto bebemos, dançamos, casamos e nos damos em casamento, logo irá nos tragar. Não pedirei piedade a Deus. Não a merecemos. Nós, seres humanos, temos mais é que nos foder mesmo, sem dó.

É isso.

Ouvindo: Milton Nascimento, Um índio/Rebanhão Palácios


domingo, 27 de outubro de 2024

Minha Mãe Nunca Me Disse Que Eu Era Uma Ovelha Negra

 

Minha mãe nunca me chamou de ovelha negra, mas é estranho que sempre dizia que ao ouvir a canção de Rita Lee, lembrava-se automaticamente de mim.  Um claro indicativo do que ela pensava e  não, não m sinto chateado porque ela via a condição de ovelha negra como eu vejo: Uma coisa boa, uma distinção positiva e não o contrário. Para mim, ser uma ovelha negra, não ser como tantos e tantos,  me faz feliz, me garante o mínimo de sanidade para viver o restante da vida.

Já me entristeceu demais não ser uma pessoa que se encaixa, ser um quadrado que vive em um mundo redondo, mas hoje é sinceramente uma questão pacificada em meu coração. Não vou conseguir agradar as pessoas, não vou conseguir fingir que vejo o mundo e sua insanidade cada vez mais escancarada pela lente comum. E não estou dizendo de forma alguma que distorcida é a lente dos outros. Muito provavelmente é a minha lente que enxerga o mundo de forma desconexa e desproporcional.

Não tenho de forma alguma a pretensão de dizer que certo sou eu e errado é o mundo. Esse lance de que a maioria crucificou Jesus, frase comumente utilizada para dizer que a maioria esta errada não me convence nem um pouco e muito menos me conforta. Eu sinceramente se pudesse escolher estaria ao lado da maioria em tudo. Muito mais fácil pensar de forma linear e pasteurizada. Evita ter que dar explicações, evita ser o "do contra", evita o confronto. 

Se por um lado não consigo evitar pensar como penso e ver como vejo, tenho conseguido evitar as expressões públicas de meus pensamentos. Não os verbalizo de forma alguma  a menos que seja absolutamente necessário, indispensável mesmo. Afinal, o que me traz de bom, de benefício, expressar minhas ideias, minhas impressões para que todos em volta saibam? Tenho aprendido que a mim, basta que eu mesmo tenha minhas convicções bem estabelecidas, minhas certezas bem fundamentadas. 

Quando me orgulhava de ser uma ovelha negra, o confronto era o que me movia. Hoje, fujo do confronto, fujo da possibilidade de ser o cara que vai contra a multidão. O silêncio é meu aliado, os vazios verbais me fazem muito mais bem do que mal, alias, não me fazem mal. Não renuncio de forma alguma a ser como eu sempre fui, não renego meu modo de pensar e viver, apenas não preciso ser o primeiro a contestar ou concordar. A mim, basta pensar. Me basta ter fundamentado dentro de mim mesmo o que acredito e tá tudo bem. 

Minha mãe nunca me chamou de ovelha negra, mas sabia bem o filho que tinha. Sabia bem que eu era sou e serei uma e no fundo, creio que ela se orgulhava deste meu traço. Pensar assim me faz feliz.

É isso.

Ouvindo: Pato Fu, Música de Brinquedo 

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Entre o Som e o Ruído

 

Estou no Morumbi. Mais precisamente, no Jardim Guedala. Só, em um plantão, como tantas outras vezes estive só, em tantos outros plantões.  Olho para a rua e vejo o congestionamento se formar. Carros buzinam impacientes como se suas buzinadas tivessem o condão de fazer o transito se abrir como se abriu o Mar Vermelho para Moisés e seu povo. Não vai acontecer. Ficarão encalacrados durante horas porque é assim que a vida funciona em São Paulo quando chove. Tudo para.

Eu estou aqui, no salão de vendas, protegido da chuva, absorto em meus pensamentos, tentando colocar para fora tudo o que gostaria de dizer. Eu sempre tenho algo a dizer, sempre tenho opiniões a dar, palavras a serem ditas. Porém, ultimamente, tenho me calado. Mal me reconheço mas me sinto feliz com meu silêncio.  Não quero mais ser aquele que sempre expele sua opinião com tanta força e rapidez que atropela a todos os que estão em volta com a torrente de palavras na maioria das vezes desnecessárias. Falar, eu tenho percebido cada vez mais, é algo que deve ser feito apenas quando se tem relevância na palavra dita. Caso contrário, o silêncio é muito mais interessante e diz muito mais sobre quem o guarda do que palavras ao vento.

Não que eu não goste mais de falar, pelo contrário. Mas me reservo e me reservando tenho me descoberto por incrível que pareça, melhor.. Sem ter que explicar a todo o momento o que quis dizer, eu posso apenas ouvir e quanto mais eu ouço, mais consigo elaborar a valia do silêncio, não apenas do meu, mas do silêncio como uma forma de se conduzir a vida que todos deveriam adquirir.  Eu, por não saber me calar, me meti em inúmeras enrascadas durante minha vida e hoje percebo o mal que o excesso de palavras me trouxe. Fosse eu silencioso como hoje ao menos tento ser, minha vida teria sido completamente diferente.

Aprender a não dizer nada  apenas por dizer, falar apenas na hora de falar, como diz a brilhante canção dos Secos & Molhados, me faz automaticamente ouvir mais. Prestar mais atenção ao que é dito em minha volta, analisar mais o teor dos discursos, identificar o que é fala e o que é falácia, o que é som e o que é ruído, o que necessário do que é inútil.  Hoje entendo perfeitamente porque a Bíblia classifica o falar como prata e o silenciar como ouro. Faz todo sentido.

Confesso que tenho saciado minha necessidade de fala, falando apenas comigo mesmo, em tom baixo, quase inaudível, corrigindo minhas ideias equivocadas e me congratulando com as falas que fazem sentido. Eu quero cada vez me calar mais, quero cada vez mais saber identificar rapidamente a diferença entre som e ruído.

É isso.

Ouvindo: Secos e Molhados