quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Em tempos assim

Sim, pego emprestado o título de uma de minhas canções favoritas do Foo Fighters para falar  de mim e  com me sinto. é um post absolutamente confessional, de mim para mim se você não quer se cansar com o que escrevo pare de ler agora. Não haverão elocubrações  sobre um assunto especifico nem nada, apenas quero falar dos tempos em que vivemos e como ele me afeta.

Mundo, louco mundo este em que vivo. Ter é mais importante que ser, mas isto é quase que desde sempre. Acontece que isto esta se exarcebando  de uma forma absurda. Nossa vida não se passa mais em um mundo real, físico, onde trocamos palavras olhando um para o outro ou onde podemos sentar com quem se gosta e apenas contemplar o tempo passar entre amigos. Não. Hoje o que vale é o que sua rede social faz as pessoas pensar que você é e sobretudo o que você tem.

Vejamos por exemplo o tal do Instagram. Como diz a canção, é claramente "armadilha de Satánas!". Brincadeiras a parte, é um mundo tão perturbado e tão perturbador que realmente não consigo entender sua lógica. Ou a entendo muito bem e isso é o que incomoda.  Não existe mais uma viagem, seja em família, seja entre amigos que seja apenas isso: Uma viagem para se relaxar, passar bons momentos, curtir  em enfim. Não. As viagens hoje não são viagens se não tiverem dezena, as vezes centenas de fotos no Instagram. Se você não comunicar a todos os seus seguidores que está viajando, que está feliz, que esta realizado, a viagem fica infeliz, inconclusiva e não existe realização pessoal.

Somos avaliados pelo número de seguidores que temos em nossas redes. Minha filha se orgulha de ter mais de 500 seguidores no Instagram e eu sei que é um número pífio perto de algumas pessoas. Mas esses seguidores nem conhecem, em sua maioria a minha filha.  Li uma matéria que mostra como você pode comprar pacotes com  dois mil, três mil ou até mesmo cinquenta mil seguidores seja no Insta, no Face ou o Twitter. Comprar seguidores? Que mundo é esse??? Comprar seguidores? é o mesmo que comprar afeto, massagem no ego, que deve estar em frangalhos para  pedir tal atitude.

Tenho 290 pessoas em meu Facebook a única rede a que me filiei e acho um absurdo. 70% dessas pessoas pediram para que eu as adicionasse e nem faço ideia de quem sejam. É uma imbecilidade. Para que ter gente que eu nem sei quem é vendo o que escrevo? Essas redes servem é claro para mostrar que você é mais bonito ( só as melhores fotos serão colocadas), mais inteligente (só comentários bacanas serão postados, muitas vezes escritos por outrem) e tem mais poder aquisitivo do que realmente tem. Raras são as pessoas que conseguem ser quem são nessas redes. Conheço é claro algumas e me orgulho de ser amigo, marido e pai de algumas delas, mas no geral as pessoas querem apenas lustrar sua imagem e abrem mão de ações que poderiam fazer isso para usar posts, que insinuem que a pessoa é melhor do que realmente é.

Por outro lado, não estuo aqui conclamando um boicote as redes, pois reconheço sua utilidade em determinados momentos. Nem que seja para expor ao ridículo pessoas que dizem estar em um lugar quando o GPS do seu celular crava que estão em outro. Mas para além de detectoras de Pinóquios, as redes tem sim sua relevância n a sociedade estabelecida de hoje, negar isso seria um pouco imbecil.

Em tempos assim, eu me coloco a pensar sobre a relevância das relações. Precisamos mesmo de amigos no mundo real? Ou nos basta  termos os nossos seguidores? A verdade é que cada vez menos cultivamos o relacionamento físico. O toque humano é substituído pelo clique no mouse, pela ânsia de ver quantos "likes" a última foto postada gerou, de abrir a nossa intimidade para quem quiser dela partilhar e depois reclamar que vivemos em um "Big Brother".

Em tempos assim  que eu creio serem irreversíveis, nada me resta além de  lamentar o fim eminente das relações humanas como as conhecemos. Elas serão substituídas pela impessoalidade, pelo isolamento e principalmente pelas fotos  e vídeos em que mostraremos apenas os bons momentos de nossas vidas para que tudo sempre pareça bem. Mesmo que esteja grotescamente mal.

É isso.

Ouvindo; Foo Fighters

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