quarta-feira, 25 de março de 2015

James Brown - A música nunca parou



Não culpo de forma alguma o ator Chadwick Boseman  por não ter uma atuação a altura de seu personagem, no caso James Brown. Nenhum ator teria. Para ser James Brown de forma crível e arrebatadora, com toda sua intensidade, fúria e sobretudo genialidade teria que nascer um ator e isso não diminui o talento de nenhum ator disponível, apenas James está acima de tudo isso.

Chadwick na verdade faz o que pode em um filme mal dirigido, mal montado e de roteiro capenga que não te faz entrar na vida do "Padrinho do Soul" em momento algum. Da forma em que foi concebido e principalmente editado o expectador é convidado a ser um observador de vários "coitos interrompidos" pois quando o filme parece querer decolar a ação é remetida para alguma situação desinteressante que nada tem a ver com o que estava acontecendo. Não se trata de forma alguma de narrativa fragmentada, o diretor é burro demais para isso, se trata de cinema ruim mesmo. James Brown não merecia passar esta vergonha. Parece que foi combinado com o diretor da biografia do Tim Maia, uma espécie de aposta para ver quem vilipendiaria mais a memória de um astro do seu país.

Esquecendo os aspectos técnicos  que fazem o filme ser aborrecido, é possível cavar as camadas de tédio e perceber que James tinha um traço em comum com os gênios, quer sejam eles musicais ou de qualquer outra área onde a arte se sobreponha  e seja a habilidade principal para fazer com que a pessoa  viva em seu próprio mundo e faça próprias regras. Chatos acharão isso o cúmulo, pessoas sensíveis entenderão que não poderia ser de outra forma, ou James não sobreviveria. James era gênio e aos gênios é permitido ser como quiserem ser e ele levou isso ao paroxismo mais extremo que se poderia levar.

Pessoas geniais como James tendem a ser egoístas e ao mesmo tempo tem a capacidade de forma absolutamente inesperada e natural de praticar gestos da mais absoluta generosidade. São violentos e ternos ao mesmo tempo, são contradições, paradoxos tão absolutos que ou se ama ou se odeia sem meio termo. Por mais universal que seja a música de James, no sentido de alcançar a qualquer pessoa de qualquer extrato seja intelectual ou social, sua personalidade é o seu maior problema, pois sempre estão prontos para a guerra, para o enfrentamento e princialmente sempre tem razão ainda que estejam calamitosamente errados. Veja na cabeça de pessoas geniais se ela é capaz de criar pérolas da perfeição musical como  "Papa's Got a Brand New Bag" porque ela precisaria pagar impostos por exemplo? Ou, em sabendo dirigir, perder tempo tirando uma carteira de habilitação. Tendo a concordar com James e os outros geniais, pois certas habilidades que pouquíssimos privilegiados no mundo tem, deveriam isenta-lo da maioria da burocracia chata que rege a vida dos adultos ditos "normais"

Pessoas como James não precisam dormir peladas para criar factóides como Leonardo Peladão Noturno, mas quando querem criar algum pegam sua escopeta e saem atirando a esmo por ai. Muito mais cool  e cheio de atitude né não? A grande maioria dos músicos são dominados pelas gravadoras, artistas reais com James fazem com que estas verdadeiras prostitutas curvem-se aos seus pés e rendam-lhe louvores. Poucos são assim e ainda bem por isto. O mundo não sobreviveria a dez James Brown, a verdade é esta.

Enfim, o filme é risível mas vale a vista pelos números musicais e pela tentativa desesperada de Chadwick de tentar dar vida a um personagem tão cheio de facetas que foi reduzido por um  eterno. Conquistou esta condição unica e exclusivamente por seu talento. Merecia coisa melhor. A verdade é esta.

É isso.

Ouvindo: James Brown

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