sábado, 24 de outubro de 2015

Emicida e seu novo álbum


"Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa", este é o título do novo trabalho de Emicida. Claro que para além da pretensão que um título como este carrega, Emicida, que é quase que o salvador da Música Brasileira entregou um álbum honesto. Por si só, já está de ótimo tamanho em um momento em que o cenário musical no Brasil e no mundo é desolador e poucos artístas ainda podem ser chamados por este nome.

Mas uma coisa é verdade neste novo projeto: Emicida busca ser mais palatável para o grande público. Suas músicas mantém as mensagens, falam de racismo, do lugar do negro e do pobre no mundo, mas esta menos raivoso, mais "pop" por assim dizer e neste caso não é um defeito, muito pelo contrário. "Passarinhos" de longe a música que mais dialoga com os não iniciados na obra de Emicida tem a participação de Vanessa da Mata, e por incrível que pareça, ela não faz feio. Sua voz em dueto com a de Emicida fica até bacana, falta apenas como sempre,  alma. Vanessa carece de alma, mas não é dela que vou falar.

A música de Emicida precisava soar menos raivosa e mais aberta a conversa, até porque o próprio Emicida não é um artista encapsulado em idéias imutáveis e sua obra deixa isso claro, em que pese seu apoio ao movimento dos sem terra, sem teto e tantos outros sem alguma coisa a quem ele da guarida. Um contracenso quando se analisa o próprio Emicida, alguém que enfrentou todo tipo de privação na vida e ainda sim, achou seu lugar no mundo. Fica até estranho que movimentos que querem vender um paternalismo barato ao invés da luta pela superação tenham apoio dele mas artistas, e mais ainda artistas geniais, tendem a  certos contracensos que devem ser aceitos por seu público.

O que importa neste álbum é na verdade o fato de que as letras são bem mais assertivas, deixando de lado algumas utopias anteriores e propondo uma leveza e mesmo um certo bum humor que surpreende  positivamente a quem ouve o trabalho por inteiro. Não faltam as criticas a sociedade falida que vivemos, ao racismo, ao preconceito aos pobres, mas tudo isso agora em uma embalagem musical que incomoda, como deve ser, mas sem agredir.

O lado negativo é ver um bando de gente que não faz ideia da profundidade da obra de Emicida cantarolando suas canções como se fossem intimos de sua obra. Pessoas que esperam apenas a nova tendência musical para  abandonar a obra sensível e transbordante de talento de Emicida, o cara que de fato, salvou a música  nacional.

É isso.

Ouvindo: Emicida

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