terça-feira, 18 de abril de 2023

A Profanação Do Corpo De Marília Mendonça

 

Em que pese suas músicas chatas e desprovidas de qualquer talento  em que mulheres se tornavam reles seres vingativos e ainda chamavam chamavam a isso de feminismo, Marília Mendonça era um ser humano e não respeitar ainda que depois de sua morte a sua humanidade é algo que só pessoas extremamente monstruosas são capazes de fazer. Seja por um fetiche difícil de entender, seja por despeito, seja por pura maldade, nada justifica a publicação das fotos de sua autópsia. Nem mesmo sob o argumento de que pudesse ser de interesse público, pois o luto de sua família é algo que deve ser mantido em privado e respeitado de forma inequívoca.

Que mente criminosa não pensaria que Marília deixou um filho que irá crescer e certamente tomará contato com essas fotos desnecessárias? Todos sabemos que o que se lança na rede, na rede fica, não importa de quantos dispositivos se apague. Será que a pessoa responsável por este ato de selvageria faria o mesmo se fosse um parente seu ainda que anônimo? Será que a brutalidade aplicada a Marília e sua família seria replicada se o Brasil não fosse o país da impunidade? A pena, caso descubram o autor dessa barbárie é de 1 a 3 anos de reclusão + multa e claro que a pessoa se levada aos tribunais não será presa e no máximo pagará uma multa que não minora em nada o sofrimento da mãe, do irmão e demais parentes de Marília.

Não gostar da música de um artista não é desejar o eu mal. É apenas não ouvi-la, não compartilhar, não ter em seu Spotify. Não gostar de um escritor é simples. Apenas não se lê o que ele escreve. Não é necessário odiar alguém  por conta de seu sucesso ainda que se ache tal sucesso imerecido. Ninguém deve ser juiz do mérito alheio. A opinião de cada é exatamente isso: Uma opinião, nada mais. Agora o ultraje que se cometeu, a forma com que se vilipendiou um momento tão íntimo da família e da memória de Marília, não tem argumento que possa defender, ótica que possa atenuar, palavras que amortizem a dor que até eu, um detrator convicto da arte de Marília,  senti.

A profanação do corpo de Marília me causou angústia e medo. Medo de que o mundo esteja realmente totalmente desgovernado, totalmente perdido, sem eira nem beira e que a gente só vá conseguir ir dessa para algo muito pior. Que os valores, por mínimo que sejam, tenham se esvaído de mentes e corações e tenha restado apenas o apelo fácil da maldade e da ganância que leva pessoas a construírem dores desnecessárias para outras pessoas apenas para que seus próprios interesses sejam atingidos. 

Tenho vergonha do que a humanidade se torna dia a dia. Vergonha de mim inclusive, porque tenho meus erros e meu lado sombrio. Vergonha das futuras gerações, do mundo que meu neto herdará e tenho tanta vergonha que as vezes penso ser melhor ele não herdar mundo algum. Talvez uma hecatombe nuclear seja a solução para um mundo que mostra a cada dia ter menos soluções práticas e realistas para o mal que lhe assola.

Minha solidariedade a família de Marília, me juntos a eles em sua dor e sofrimento, em sua angustia e em sua busca por respostas que se não solucionem o caso ao menos tragam conforto. Que Deus em sua infinita misericórdia, traga a paz que buscam desde o fatídico acidente. Que possam algum dia, voltar a dormir um sono sem interrupções, sem medos e sobretudo com a certeza que sua filha amada descansa em paz.

É isso.

Ouvindo Memories of Green (Blade Runner Soundtrack)

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