quinta-feira, 8 de junho de 2023

Eu Me Peguei Chorando Por Astrud

 

Não foi aquele choro derramado, contínuo. Ao contrário, foi contido, como contidas eram as apresentações e interpretações de Astrud. Mas foi ao mesmo tempo, um choro enérgico como enérgicas eram suas apresentações e interpretações e talvez ai resida o fascínio que sempre tive por Astrud: Como pode alguém ser tão doce, contida, e ao mesmo tempo ter tanta energia, envolver o ouvinte de tal forma que tudo ao redor se desvaneça em favor da concentração em sua emissão vocal? 

Astrud era o Brasil que cantava bonito, macio. Era o Brasil que não apelava para o fácil, para a bunda de fora ou para a pura e simples batucada. Sim, havia batucada e brasilidade em suas performances, mas apenas quando necessário. Não era a regra, não era um instrumento de cooptação visual e auditiva para automaticamente fazer o gringo achar que brasileiro e batucada seja uma coisa só quando temos tanta diversidade, somos tantas coisas além de uma sessão rítmica calcada em percussão.

Astrud (que nome lindo, que nome lindo!) para além do fato de ter sido casada com João Gilberto tinha luz própria (Stan Getz que o diga). Uma beleza doce e tímida que era admirada por aqueles que sabem que a beleza mais que padrão estético é algo que nasce no âmago de uma pessoa e que explode de dentro para fora. Seu talento produziu discos memoráveis onde interpretações inesquecíveis fazem com que o ouvinte se comova e queira ouvir mais e mais. São discos de pura beleza e refinamento onde é secundada por músicos que sabem exatamente o que estão fazendo e assim proporcionam momentos de puro deleite.

Astrud foi aquele tipo de artista que vira trilha sonora da vida de quem aprecia seu som. Quando coloquei os pés no Rio de Janeiro pela primeira vez, não pensei em "Samba do Avião" de Tom Jobim mas sim em Astrud interpretando magnificamente "Corcovado". Quando penso em "Garota de Ipanema" não me vem Frank Sinatra como primeira opção de intérprete e sim Astrud.  Eu me peguei chorando por Astrud, mas foi porque me dei conta que aos poucos, os bons vão morrendo e não há reposição a altura.

Astrud, que nome Lindo, que nome lindo!


É isso.

Ouvindo: Astrud Gilberto

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