quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Mano Brown Nova Jerusalem


"Mulheres cantam, em uma ciranda em pés no chão... eu reconheço minha mãe, ainda jovem..." Só eu vejo a poesia que existe nesse inicio? Me corta o coração, me faz chorar, me faz lembrar da minha própria mãe, ainda jovem, me faz reviver mina infância, me faz pensar na Nova Jerusalém... Cara que loucura! Essa batida melancólica, que reforça toda a tristeza que guardo no peito, que me faz sufocar em mim mesmo... Como pode ser isso? Ouça: 



Como menos de 4 minutos de música podem conter tanta poesia? A forma com que Mano interpreta, claramente sofrida, destituída da raiva que ele utiliza no RAP,  a voz é triste, contida, mas também curiosamente esperançosa, calma. Os backs vocals, são inacreditáveis, perfeitos, combinam com a canção, emocionam, fazem valer a pena ainda mais a audição.

Confesso que o lançamento de "Boogie Naipe" a uns anos atrás não me entusiasmou. Um álbum correto e só. Mas no dia 1/01/24, eu ouvi Nova Jerusalém. Me  chamou a atenção o título, que te dá tantas e tantas opções de interpretação e te deixa levar a música para onde você quiser levar. E eu confesso que reconheci  minha mãe ainda jovem. 

Minha mãe ainda jovem além de bela era inteligente e cheia de vida. Cruzou com meu pai que e ele a fodeu! Literalmente e figuradamente. A largou com um filho e seguiu seu caminho. Ele não vai para a Nova Jerusalém, eu suponho. Ela, vai. Nova Jerusalém é um lugar que agora eu sei, mulheres cantarão fazendo uma roda de ciranda e descalças. Apesar das ruas de ouro,  elas serão como quando eram meninas e o pó das ruas de terra vai subir, porque Deus é antes de mais nada amoroso e afetivo e memórias, ainda que não as tenhamos lá, ou melhor, as pessoas que lá estiverem não as tiverem (não tenho a menor pretensão de me imaginar lá), são importantes e essas mulheres sofridas, abandonadas, abusadas, estão lá, juntas, dançando a sua ciranda como se fossem todas jovens e sim , elas serão de fato jovens eternamente, entre elas minha mãe.

Nova Jerusalém e a visão idílica de Mano, quando ele diz que vê um pomar e um casarão, sem guerras e magoas a obliterar esta visão, me fizeram chorar, mas também ter esperança. Não por mim, mas por um lugar de paz e descanso para minha mãe que tanto lutou e tanto sofreu aqui. Eu sei que lá não entro. Sou um ser que não fui talhado para lá. Não verei um pomar e um casarão sem dores e guerras, mas sei que minha mãe estará lá e descansará. Isso me fará feliz.

Quisera eu ter o dejavi, a sensação de paz de um lugar todo azul. Obrigado por tão linda canção, Mano Brown.

É isso.

Ouvindo: Booggie Naipe


Nenhum comentário: