quinta-feira, 29 de maio de 2025

Sempre é Uma Luta

 

Sim a Coca Cola e um vício em minha vida e provavelmente vai me matar. Sou diabético, deveria passar longe dela, mesmo na versão 0, mas eu a consumo como se não houvesse amanhã. Não posso falar nada sobre quem bebe bebidas alcoólicas ou é viciado em cocaína, maconha, crack ou qualquer outra coisa ou substância. Meu vício é real e mensurável.

Não é que eu tenha deixado de lado a tentativa de me livrar dele. É muito fácil para quem me vê tomando quantidades insanas de coca cola jugar  situação e me dizer que sou um retardado ou uma pessoa sem amor próprio ou várias outras coisas que escuto. Porém, a verdade é que a Coca Cola é a única substância que me da real prazer na vida. Comer não é um ato completo sem ela para mim.

Não, eu não busco esquecer nada ao tomar Coca Cola, eu busco o prazer instantâneo que  o choque do liquido  preto  com minha língua provoca. Se eu tomar 200 copos por dia, nas 200 vezes esse prazer é idêntico e real. é algo que me acalma, me faz realmente feliz. Na minha vida desenxabida e sem graça, a Coca Cola tem papel fundamental pois o tempo que dura um copo cheio dela em minha mão é um tempo em que a vida faz mais sentido.

Eu posso sem dúvida alguma ficar 1, 2, 3 meses sem tomar Coca Cola. Mas isso me relegaria a uma existência infeliz. Não me importo que as pessoas ao lerem isso me achem vazio ou raso, sei que não sou. Mas o fato é que a Coca Cola é sem dúvida alguma algo que potencializa a minha felicidade, a minha alegria. 

Se eu ouvir Bach por exemplo, sou feliz as pampas, mas se eu ouvir Bach com um copo de Coca Cola, elevo essa felicidade a uma potência assustadoramente mais alta. Se eu fecho uma venda imobiliária que sinceramente é um prazer maior que o prazer que o sexo me traz, se eu comemorar com uma Coca Cola, a venda toma outra dimensão.

Acontece que ainda sim, eu gostaria de me livrar dela. Gostaria de acordar na madrugada e não tomar Coca Cola e sim água. Gostaria de me sentar de frente para o mar sem pensar que uma Coca Cola faria o seu azul mais azul e o Sol mais brilhante. Seria muito bom não tomar Coca Cola porque eu não quero, não porque me forço a não querer. Mas sou fraco e me rendo ao seu gosto e quando não a tenho por perto preciso saber que logo terei.

É uma luta e por mais que pareça para muitos uma luta sem sentido e pequena, cada um sabe as batalhas que trava  cada um sabe onde suas dores são mais fortes. Eu só queria dormir e acordar isento dessa vontade que me faz no fundo no fundo ser tão viciado como qualquer um que precisa de outras formas de prazer ou de escape.

Essa luta, aos 52 anos eu sinto que perdi e que só me resta tentar conter os danos dessa derrota bebendo menos. Se vou conseguir? Sei lá!

É isso.

Ouvindo: Guardian

Heleninha Miranda

 

Minha mãe era enfermeira. Uma excelente enfermeira diga-se de passagem. Quando a coisa apertava, ela fazia bicos como diarista. Nunca teve vergonha de trabalhar e se jogava em jornadas duplas sem medo. Mas minha ã tinha também um lado sensível muito forte e aflorado, era uma artista que nunca foi. Poderia ter sido atriz, escritora e tinha uma voz de contralto espetacular sem puxar a brasa para a sua sardinha.

Esse lado sensível que ela tinha, conseguiu passar todo para mim. Sim, apesar de ser uma pessoa brutal na maioria das vezes, sou sensível o tempo todo. Sinceramente eu preferia que não fosse assim. A sensibilidade em demasia acaba pesando. E com o peso, acaba vindo também a dor.

O problema da dor não esta na intensidade e sim n recorrência. Quando ela já faz parte da sua vida, é necessário um desafogo, um escape. O da minha mãe, era a bebida. A bebida matou minha mãe pois certamente seu câncer  se originou do excesso de álcool ingerido ao longo dos anos. Eu sempre tive muita raiva de pessoas que bebem pois sempre me lembravam minha mãe mas Heleninha Roitman, a 2 noites atrás me fez olhar as coisas de outra forma.

Minha mãe não tinha a beleza de Paola Oliveira, mas digo sem pestanejar que seria uma atriz muito melhor pois Paola nem atriz é. No máximo, um arremedo mal ajambrado que funciona em papéis sem profundidade e sem expressão quando não se espera nada do personagem. 

Paola esta em Vale Tudo, novela que não suportava assistir quando era um pré adolescente exatamente por conta de Heleninha, que a época era interpretada de forma espetacular por Renata Sorrah. Eu via minha mãe na tela e isso me incomodava extremamente. Porém algo aconteceu a 2 noites passadas quando Paola, tomada por uma interpretação que dificilmente repetirá, me mostrou minha mãe como eu nunca a tinha visto em vida: Frágil, derrotada por um vício que certamente não queria ter e incompreendida por quem deveria lhe estender a mão.

O choro sentido e visceral de  Paola ao ser flagrada completamente tomada pela bebida mis uma vez derrotada em sua vontade de manter-se sóbria me lembrou as inúmeras vezes em que minha mãe teve o mesmo choro jogada em um sofá relembrando a filha que mais amou e que morreu tão cedo pra sua infelicidade. Por mais que ela ouvisse de todos que a vida continua, para ela, parou ali, naquele dia em que enterrou sua filha. Depois disso, só sobrou a tristeza por perder a quem mais amava misturada com a necessidade de criar os outros 2 filhos.

Por mais que ela lutasse, nunca conseguiu se livrar da bebida que se não a fazia esquecer da filha ao menos amenizava, creio eu a sensação de dor latente e recorrente que sentia. Eu nem vinha assistindo Vale Tudo nessa versão remake que além de pessimamente escrito vem acompanhado de atuações sofríveis e de rolar de rir de tão ruim (com exceção de Deborah Bloch e  Alexandre Nero que estão se divertindo e divertindo a quem assiste), mas quando a  cena de Heleninha lutando para não beber e perdendo a luta veio ao ar, não consegui me livrar de assistir até o final.

Lembrei também de Amélia, minha irmã que morreu de overdose me deixando definitivamente sem família neste mundo e me fazendo refletir se meu vício em Coca Cola é sorte ou apenas uma forma mais lenta de auto destruição uma vez que tenho Diabetes tipo 2. De qualquer forma, a 2 noites atrás absolvi de vez minha mãe de todas as suas recaídas e compreendi que sua luta foi travada ao longo de anos com algumas vitórias mas infelizmente com uma batalha perdida para o vício.

Não pretendo ver novamente nenhuma cena de Paola como Heleninha, mas esta última me fez sentir uma tristeza imensa por não ter compreendido que o vício de minha mãe não lhe trazia prazer e sim dor, muita dor e no fim lhe trouxe uma morte precoce. Quanto a mim, nem luto contra Coca Cola e que aconteça o que tiver que acontecer. Vida que segue até que o fim chegue.

É isso.

Ouvindo: Adele


domingo, 18 de maio de 2025

Sou Fã de Odete Roitman, Sou Fã de Marco Aurélio

 

Eu to cagando para os problemas emocionais de Heleninha Roitman. Rica bonita e cachaceira? E se ela tivesse que sustentar de verdade o filho, tivesse que trabalhar em 2, 3 trabalhos para poder comer e o invés do whysky caríssimo que toma, tivesse que tomar Velho Barreiro? já teria morrido não? E na boa? uma pessoa chata a menos no mundo.

E a Raquel Acioly, modelo de virtude e retidão que não soube nem criar a única filha direito ao ponto de ela se tornar uma escroque de mão cheia. Uma mulher tão virtuosa,  tão lotada de valores morais e não conseguiu sequer fazer a filha ser minimamente decente? Se tivesse tido 3, 4, 5 filhos, e um ou 2 se perdessem vá lá, mas 1 única filha e ela cria uma mau caráter de mão cheia? Vai cagar, Raquel! De todos é o personagem mais inverossímil dessa trama.

Raquel só podia ser amiga de Poliana. Um boçal que busca ver um mundo que não existe nem na casa da Família Von Trapp aqueles cantores chatos para um caralho. Poliana não é virtuoso é só um panaca que vaga pelo mundo tentando ser aceito por uma suposta visão de mundo que só os puros tem mas que na verdade é completamente desprovida de  um mínimo de senso do ridículo, Poliana, vá a merda antes que eu me esqueça.

Ivan, o namorado abilolado de Raquel que vai se casar com a pé de cana Heleninha, mal merece um comentário que seja. Babaca que se vende por vintém tentando arrotar virtudes que não tem. Raquel tentou a todo custo fazer com que ele tomasse jeito ou  ao menos o que ela entende como tomar jeito e o que conseguiu foi apenas mostrar ao público que Ivan é tão mal caráter (ou mais) que Marco Aurélio e Odete. A Ivan falta o capital inicial para empreender de forma escusa, será sempre um serviçal do terceiro time sonhando em jogar na primeira divisão e vendendo a alma várias vezes se necessário. Ivan é um Fausto procurando um Diabo que lhe compre a alma. Nunca achará porque Ivan tem apenas a ambição atribuída a Fausto e lhe falta o conhecimento, a cultura ou qualquer traço de inteligência. Nem o Diabo se interessou por ele.

César e Maria de Fátima deveriam representar  fina flor do mau caratismo e de certa forma representam mesmo. Acontece que César é o mau caráter capacho, sempre em busca de um dominante, de alguém que lhe de o direcionamento para suas maldades e atos perversos. Não consegue pensar grande porque se contenta com tostões. César é muito mais burro e opaco do que mau caráter.

Já Maria de Fátima é a falta de limites em pessoa. Não lhe basta 1milhão e dólares. Na verdade, não lhe basta 10 milhões de dólares. Não basta a Maria de Fátima, a fortuna de Elon Musk porque Fátima é movida a poder, não é movida a dinheiro. o dinheiro, depois que chega a ela, lhe causa enfado e ela precisa de um novo objetivo, um novo desafio. Fátima tinha tudo para ser o personagem mais interessante deste remake, mas é interpretada de forma equivocada por Bela Campos. Sem nuances e sem sombras ela se mostra exatamente como é e ninguém gosta de gente sem o mínimo de sutileza.

Solange. Cherry, deixe de ser parva e acorde para vida. Não da para saber se Solange é só imbecil ou tem um pouco de otária em sua composição. Ficamos sabendo que Solange foi presa por conta das manifestações do grupo "black blocks". Na boa, cherry, que idiotice sem limites para alguém classe média com uma posição executiva em uma "agência de conteúdo". Claro, todos temos direito a opinião e posicionamento independente de classe social, mas simplesmente não combina com Solange essa prisão abestada a ela atribuída. Talvez porque abestada seja a autora dessa salada idiota de conceitos difusos e sem sentido que se tornou em tão pouco tempo o remake de Vale Tudo. 

Ainda bem que nem a bobalhona da autora conseguiu estragar Marco Aurélio. A quintessência do patife qu habita as altas rodas sociais e prova viva da teoria de Dilbert que diz que os idiotas são colocados nas empresas onde menos podem causar estragos: os cargos de chefia. Fica claro que Alexandre Nero esta se divertindo as pampas ao interpretar o personagem que ainda por cima usa suspensórios só para parecer mais sofisticado do que realmente é. Marco Aurélio brutalmente cruel, não tem papas na língua, trata seu capacho Freitas da pior forma possível (afinal Freitas é um capacho), e suas tiradas além de verdadeiras são divertidas. Desconfio que a autora delega a criação das falas de Marco Aurélio a outra pessoa que não ela, ou ela esta sendo totalmente fiel ao texto original que era uma delicia  e cagando nas falas de outros personagens as suas regras tão chatas.

Odete Roitman. O primeiro defeito de Odete neste versão é ser bonita e gostosa. Enquanto a primeira era pouco menos que uma senhorinha a Odete atual é altamente atraente o que faz com que lhe seja perdoada boa parte de seus absurdos verbais e de postura. Seu personagem muito bem interpretado por Débora Bloch diz as pores barbaridades de forma quase divertida e creio que também só pode ser resultado de um tributo aos autores originais que impede que suas falas sejam mudadas.

Vale Tudo é uma colossal chatice que só tem algum valor quando Marco Aurélio ou Odete Roitman estão em cena. Fora isso é quase um crime  o que estão fazendo com uma novela que foi tão boa. em vou comentar os outros personagens porque eles não merecem uma linha que seja, haja visto por exemplo o irmão da cachaceira, Afonso, que além de ser praticamente um débil mental, é um débil mental palestrante, o que só me faz dar razão a Odete em sua ojeriza ao Brasil, afinal, apenas aqui um boçal sem nada a dizer vira palestrante e o herdeiro de uma das industrias mais poluentes do mundo  a da aviação se preocupa em  "limpar" o planeta. Afonso, vai ver se eu estou na esquina.

Remakes são perigosos por definição e a Globo (depois não sabe porque é chamada de globolixo) entregar um remake desta envergadura para um escritora tão pateta é a prova que a emissora não esta interessada em fazer ou ao menos tentar fazer arte e sim sr porta voz de causas que interessam muito mais a agenda da própria Globo que aos espectadores que acabam sendo doutrinados por personagens jecas que insistem em parecer quem não são.

Obrigado, Globo(lixo), por ter estragado algo tão bom.

É isso.

Ouvindo: Titãs, Televisão

quinta-feira, 24 de abril de 2025

O Gato Bebe Leite, O Rato Come Queijo E Eu Sou Corretor De Imóveis

 

Parece que eu me esqueci do que faço a muito tempo, bem mais que a metade da minha vida adulta. Parece que eu me esqueci que quando resolvi ter um blog, ele levou e tem até hoje o nome da minha profissão. Parece que eu me esqueci do orgulho que essa profissão sempre me causou e me causa. Parece que eu me perdi dentro de mim mesmo em busca de uma identidade que sempre esteve latente. Eu sou corretor de imóveis, porra!

E eu não sou qualquer corretor não. Não sou panfleteiro  disfarçado de corretor. Não sou alguém que fracassou em outras empreitadas profissionais e se refugiou na corretagem como tantos. Eu sou corretor e eu amo ser corretor. Com todos os perrengues inerentes a minha profissão,  com todas as frustrações que a profissão já me causou e com todas as alegrias que ela me proporcionou, eu sou corretor, porra!

Mesmo que eu tenha nos últimos 15 anos me refugiado na figura do "coordenador imobiliário" que flana nos plantões acima do corretor "regular", mesmo que eu participe de reuniões comerciais na sede das incorporadoras (boring!!!), mesmo que eu ganhe na venda dos demais corretores, eu sou corretor e não posso perder esse espírito que sempre esteve dentro de mim.

Eu luto por cada venda como se fosse única e última. Eu durmo e acordo pensando em cada cliente que atendi para determinado corretor e como fazer com que ele compre. Eu choro por vendas perdidas e trato as vendas que fecho como mera obrigação, porque no fundo é isso que elas são: mera obrigação, a descrição do meu trabalho então se eu vendo, não há prazer especial. No máximo um auto reconhecimento, sensação de dever cumprido.

Eu venho a um tempo, alguns anos na verdade agindo como Benjamim, o palhaço do filme "O Palhaço" que não sabe mais se quer ser palhaço. E nesse não saber, se perde em suas emoções e busca respostas fora de seu ambiente. E depois de vagar um tempo por profissões que não a sua, ele se redescobre palhaço. 

Não cheguei a vagar por outras profissões porque sou covarde, bundão mesmo. Atravessei um deserto composto por dúvida e solidão em buscas das minhas respostas e hoje pela manhã eu me descobri, ou melhor, redescobri corretor de imóveis. Não coordenador imobiliário, apesar de continuar a exercer esta tarefa no organograma da empresa. 

Eu olhei o espelho no banheiro do plantão em que estou e me vi. Barba quase que totalmente branca, cabelos que não tenho rugas, um barriga que começa a ficar sulcada pelas picadas das canetas de insulina, mas acima de tudo, eu vi um corretor de imóveis. ele piscou para mim e me lembrou que ainda amo esta profissão, que ainda preciso dela para viver e para ter vida em mim. 

Quando o meu reflexo piscou para mim eu entendi que o gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou corretor de imóveis. E por muito temo ainda serei.

É isso.

Ouvindo: Petra

sábado, 19 de abril de 2025

Pessoas Que Dançam

 

Osasco, minha cidade, não onde nasci, (nasci em Guarulhos), mas que me adotou a 11 anos, ou fui eu que a adotei? Sei lá... Enfim, Osasco, que é rica e próspera, que atrai empresas de tecnologia de ponta, tem a loja da rede Carrefour que mais fatura no Brasil, que tem a ponte metálica (um orgulho pra lá de bizarro da galera de Osasco, uma vez que é um monumento ao mal gosto). Osasco, enfim, que é e tem tudo isso, tem também uma mini Cracolândia.

Fica ao lado do terminal rodoviário e da estação CPTM e não obstante ter uma fração do tamanho da Cracolândia original do centro e SP, em usuários e bêbados e prostituas o suficiente para chocar os que por ali passam seja diariamente, seja uma vez ou outra.

Passo ali todos os dias  a pé no inicio do dia e no inicio da noite cortando caminho para minha casa e de tanto caminhar acabei desenvolvendo uma certa "amizade" com algumas figuras dali. O "segurança" do desmanche de veículos que fica na  rua e é também o loca onde drogas ficam armazenadas como se fosse um centro de distribuição do tráfico, o dono da Barbearia onde corto o pouco de cabelo que me resta e aparo o exagero de barba que tenho e algumas outras pessoas, figuras tão trágicas quanto pitorescas.

Dentre todas essas figuras se destacam para mim o grupo de mulheres que ficam por ali. Mulheres marcadas pela vida. Roupas velhas, acabadas, magras não por escolha estética mas pela fome que ronda as suas vidas e pela droga que pode até enganar a fome mas não seus sinais, elas dançam. Sim, ela dançam, pois ali existe um bar, (o pico onde tudo acontece) e nesse bar a música rola o tempo todo.

Enquanto os homens ou vagam sem rumo  entre uma ponta a outra rua ou se sentam no meio fio olhando para o nada elas dançam. eu paro ali as vezes e observo. Elas dançam  dançam com vontade. Uma delas me lembra Baby Consuelo, quando era pouco mais que uma menina e uma TV Alemã  a gravou com os Novos Baianos cantando e dançando (parecia mais uma espécie de transe) "A Menina Dança".

E o mais exótico ´que as caixas de som reproduzem de sertanejo a rock  e elas dançam. Dançam como se daquela dança dependesse a vida, ou melhor, não a ida mas a sanidade que  vida requer. A dança delas é como um grito "EI, ESTAMOS AQUI, EXISTIMOS!" E essa ânsia de existir as revela para além das roupas sujas e surradas, muito além dos rostos inchados da bebida ingerida a todo momento, a dança as faz ainda mais vulneráveis pois as faz humanas e todos nos humanos somos vulneráveis em alguma medida.

Elas dançam e se diverte entre si mesmo que momentos depois estejam se pegando pelos cabelos por conta de mais um pulo no abismo do crack. Elas dançam sempre em grupo e quando dançam, são irmãs e são bailarinas do absurdo e essa que me lembra Baby, bem que poderia ser realente uma artista se  vida não a tivesse aprisionado na Cracolândia de Osasco, que existe, que as autoridades de Osasco sabem que existe mas nada faz para mudar a situação.

Quando paro e as vejo dançar eu me comovo. Nas 2 primeiras vezes fui abordado por um traficante que me ofereceu pó, pois achava que pedra não era minha cara, agora ele já sabe que não quero nada mas batemos papo. Enquanto isso, a menina dança. como diz Baby, mexendo os olhinhos.

É isso.

Ouvindo: Novos Baianos

segunda-feira, 31 de março de 2025

Eu Me Sinto Bêbado Mas Estou Sóbrio

 

Como bem disse Alanis, e hoje eu a entendo, eu me sinto bêbado, mas estou sóbrio. Acontece que nos dias em que vivemos, a sobriedade só atrapalha. é preciso estar bêbado, ou ao menos conseguir enxergar como tal para sobreviver em um cenário onde tudo esta desintegrando-se a olhos vistos, mas as pessoas ao redor parecem além  de não perceber a obvia derrocada do mundo como o conhecemos, achar que tudo esta  bem.

Dias cada vez mais quentes? Chuvas que destroem sonhos de quem só podia sonhar por nada ter de real porque outras chuvas anteriores já levaram o pouco que tinham ? Tudo isso parece ser passageiro, algo que não significa nada, pois não mudamos nosso comportamento nocivo exatamente por não achar de forma alguma que ele seja destrutivo.

Nosso estilo de vida se arraigou de tal forma em nossa sociedade que uma reflexão sobre o quanto ele esta prestes a nos destruir simplesmente inexiste, e não acreditamos (salvo poucos abnegados), que nosso lar, nosso planeta esta nas ultimas. Como Tiriricas da vida real (já que o artista vive claramente em um mundo de fantasia e  faz de conta), achamos que "pior que está não fica". Acontece que sim, vai ficar muito, muito pior.

Neste momento vivemos sob o perigo de um presidente americano que além de tirano, racista, misógino, entre tantos outros adjetivos negativos, e um maluco, um doidivanas que quer fazer do mundo seu quintal onde cachorros podem cagar livremente se que seu dono tenha que limpar seus excrementos. Trump é um patife se a menor consciência ecológica ou melhor definindo, sem consciência alguma, pronto para esmagar com seu artefato bélico qualquer um que se oponha  sua sede expansionista e imperialista.

O doido não só quer anexar o Canadá, como pegar para si a Groelândia e fazer da América Latina sua latrina privativa, sem a menor cerimônia.  Apoiado por outros malucos extremistas, odeia a democracia e tudo o que cheire a liberdade. Demoniza a China no cfé da manhã e quer almoçar o México um pouco por dia deixando o Brasil para sobremesa.

 Junte tudo isso a sua negação constante e incompreensível sobre o apocalipse climático que vivemos e pronto. Muito melhor ser bêbado do que sóbrio. Muito melhor negar com todas as forças que tanta loucura se abateu sobre  Terra. Melhor achar que tudo vai melhorar mesmo sabendo que não vai. Achar que o mundo passa por uma fase de adaptação e emergirá dela melhor do que entrou, o que é obviamente uma ideia de doidos tentando ser normais.

Eu me sinto bêbado, mas estou sóbrio e o que me resta é observar do camarote de minha sã bebedeira a vida que se esvai sem sentido rumo ao caos, a destruição, a morte. A vida se esvai e junto com ela qualquer traço de esperança. Seguimos, uns solenes, outros completamente desavisados rumo a uma destruição certa e breve e não há mais o que se possa fazer.

É isso.

Ouvindo: Alanis Morissette

sábado, 22 de março de 2025

Basta Uma Canção.

 

Basta uma canção, só uma música é necessária, nada mais. A vida pode ser uma merda, mas basta uma canção para tudo que é ruim descer pelo vaso. A vida pode se brilhante, mas uma canção a faz ser constelação. Basta uma canção para chorar e basta uma canção para sorrir. 

Se sou solitário, basta uma canção para me sentir íntimo de quem a interpreta. Se sou multidão e o barulho me incomoda, as pessoas me incomodam, basta uma canção para me transportar para dentro de mim mesmo e acessar meu universo particular.

Quando falta concentração, basta uma canção para que eu me coloque o trilho e se quero despirocar, basta uma canção para enlouquecer de vez e dizer tudo o que quero, tudo o que sinto, tudo o que sei e até o que não sei mas tenho convicção que sei mesmo assim e no final das contas, são minhas convicções tortas as melhores que tenho. Para tudo isso, basta uma canção.

Pode se Tom Jobim, pode ser Tim Maia, Cícero, Sepultura, pode ser até Grace Wander Waal, basta ser canção, bata me tocar, me entorpecer ou acordar, me paralisar ou fazer correr milhas e milhas. Uma canção que me alcance me faz voar ou me faz deitar na relva olhando para o céu e contanto nuvens.

Tudo na vida deveria ser canção, tudo na vida deveria ter ritmo. Se alegre, se triste, tudo deveria ter trilha sonora. Sem canção, o que nos resta além da aspereza do silêncio produzido por tantas vozes que dizem nada achando que dizem tudo e acabam produzindo apenas um ruído ensurdecedor. que nada diz. 

A vida é canção, ao menos a minha é. Lamento por quem não vê música como essencial. O que seria de mim sem uma canção?

É isso.

Ouvindo: Grace VanderWaal