Paola, a digna perguntou: O que será que a gente perde quando a gente cresce?
Ana Paula, a obtusa, respondeu em um rompante inusitado de lucidez: A coragem!
É isso mesmo. Perdemos coragem a medida que crescemos e ganhamos em troca, filtros. Vários deles. Pensamos demais, agimos de menos, temos medo do rídiculo, como se ele fosse algo assustador e não libertador. Esquecemos que o rídiculo tem uma função regulatória em nossa existência, não restritiva. Correr riscos, ter menos medo, ter menos vícios e mais virtude, Acreditar que algo pode ser feito e se propor a fazer, dar a cara a tapa. dar tapas também, não ter medo do tempo, usa-lo como nosso aliado e não adversário, viver a vida que escolhemos e não a que nos impõe... Onde tudo isso ficou? Onde foi para o componente de coragem que nos movia na infância afinal? Trocamos a inquietude pela passividade como se isso fosse uma troca justa e aceitável. Não é.
Ver aquelas crianças cozinhar para três adultos renomados que causam medo, pavor em muita gente foi pedagógico para mim. Mais ainda porque as percebi cozinhando com coragem, arriscando, fazendo o que achavam que deveriam fazer e não o que parecia mais seguro. Escolheram ingredientes inusitados, arriscaram até o limite, o rídiculo não era um limitador, era de forma inconsciente, um alvo. Não eram crianças puxa saco, queriam impressionar os chefs, mas pelos motivos certos, e eram, sobretudo, solidárias umas com as outras.
Fiquei especialmente impressionado com um gordinho simpático de camiseta camuflada. Seu choro sentido e incontido pela eliminação de dois participantes de seu grupo, me fez chorar junto com ele, aos litros. Não era um choro cênico, não havia ali um alívio pela eliminação de dois competidores, o que existia era a tristeza mais genuína porque dois amiguinho iam embora. Não poderiam mais brincar juntos. Por que perdemos isso quando crescemos? Porque nos tornamos egoístas e nos alegramos com as derrotas de quem conosco compete? Por que pensamos que é menos um nos atrapalhando a conquista de nosso objetivo? Será que não podemos torcer um pelos outros depois que crescemos? Quem são afinal e o que querem essa turma a quem chamamos de adultos? Matamos uns aos outros por nada.
Em um determinado momento as crianças ali fizeram quase que um mutirão para ajudar um competidor que tinha esquecido algo. Foi emocionante para mim. O olhar infantil sobre o que é uma competição é completamente diferente do nosso. Via de regra elas competem, mas sem querer a destruição do outro.
A postura dos jurados é outro ponto elogiável. Delicados, também solidários e compassivos com pequenos seres que podem ser extremamente sensíveis e aos quais uma palavra errada pode destruir a auto estima. Paola é quase maternal, Fogaça, o irmão mais velho e Jacquin o tio bonachão que todos queremos ter e eventualmente temos na família. Ok, não sou imbecial e sei que as crianças foram selecionadas a dedo e o comportamento dos adultos é claramente influenciado por estarem em uma competição em um programa que está entre os lideres nacionais de audiência.
Mesmo com tudo isso me converti em fã do MasterChef Júnior Brasil. Vida longa ao programa!
É isso
Ouvindo: Pedro Mariano