Não existem gargalhadas em "O Astronauta" Não existem sequer sorrisos. A interpretação de Adam Sandler é crua, baseada em uma tristeza latente que o acompanha desde a primeira tomada. Uma tristeza que é quase palpável, quase visível a olho nu. Jakub, o personagem de Sandler é um Astronauta que aparenta não querer ser mais nada, aparenta na verdade nem querer estar vivo.
Ele se mete em uma jornada de 6 meses aos confins do espaço e isso não traz autoconhecimento, reflexões filosóficas ou qualquer outra coisa que possa ser tomada como positiva. Ele tão somente se sente-se triste, com uma saudade lancinante de sua mulher que paradoxalmente quando em Terra ele fazia de tudo para estar longe. Jakub sofre e pior, sofre calado por não ter com quem falar dado que está só na imensidão do espaço.
Quando Jakub descobre para seu espanto que não está só, ele se vê acompanhado de uma espécie de Aranha gigante de causar arrepios em qualquer um. A suposta docilidade da Aranha causa ainda mais arrepios, pois um ser com sua aparência não aparenta ser dócil e sim pronto para o ataque. Porém ao falar a aranha define não apenas a Jakub, mas a todos nós. Ela o chama de "frágil humano" . Após esta frase fica claro que não só Jakub, mas também eu e você que me lê, que todos nós afinal de contas somos tão somente frágeis humanos, por mais que não aceitemos tal condição.
Somos exploradores. Mandamos o homem a Lua e hoje sabemos que existe mais água na Lua armazenada que nós possamos consumir em 1 ou 2 gerações. Logo, estaremos pousando em Marte para descobrir com nossos olhos os seus segredos e mistérios. Depois de Marte, o que nos aguarda? As Luas de Saturno, Jupiter e Netuno? Vamos mandar objetos observar Europa e Io? Sim, vamos. Produzimos aviões que voam mais rápido do que jamais sonhamos, nossos carros correm alucinadamente. Construímos prédios cada vez mais altos, mas ainda sim somos frágeis, frágeis humanos.
Ad Astra excelente filme com Brad Pitt trabalhou a culpa e a solidão de forma magistral e nos mostrou que podemos fazer praticamente o que quisermos graças ao nosso intelecto mas ainda sim não conseguimos dominar nossos sentimentos e a tristeza, a solidão, a falta de empatia, tudo isso nos domina em um piscar de olhos e ai tudo o que construímos e realizamos se torna irrelevante.
Jakub tem um encontro insólito em pleno espaço sideral com uma aranha que para alguns é sua consciência mas que para mim e para outro tanto de pessoas, é literal. Esse encontro não o tira da tristeza mas o faz refletir sobre sua vida e suas atitudes em um momento crucial não apenas para ele mas para toda Terra que acompanha sua jornada que esqueci de mencionar, tem como objetivo salvar a humanidade da destruição.
Mesmo tendo que salvar a humanidade, Jakub deixa claro o quão secundário isso é para ele. Resolver suas próprias questões, sentir-se menos mal do que esta se sentindo e até mesmo salvar a aranha de seu destino é mais importante do que a humanidade que dele aparentemente depende. São tantas e tantas camadas dentro de seu silêncio que se torna impossível descrever em um texto. é necessário assistir "O Astronauta" e de preferência mais de uma vez para então perceber através das nuances na interpretação de Sandler, tudo o que este magnífico filme tem a oferecer.
Mas uma coisa fica clara: Somos todos frágeis, frágeis humanos, inseguros e com medo de nosso futuro pois não sabemos o que nos aguarda na próxima esquina. Somos frágeis embora arrogantes, medrosos arrotando valentia. Somos todos dependentes seja de um Deus, de outra pessoa, de uma crença pessoal, tanto faz. Somos todos dependentes e nessa dependência ou no afã de dela se livrar, tentamos mostrar independência e mostramos apenas o quanto podemos ser patéticos, seres patéticos ao ponto de levar creme de amendoim para o espaço. Somos frágeis, frágeis humanos.
É isso.
Ouvindo: Love Coma