quarta-feira, 1 de abril de 2015

Simony (aquela do Balão Mágico) e de como a obsessão pela magreza tolda pensamentos


Simony (aquela do Balão mágico, tenho leitores de todas as idades e os mais novos não tem ideia de quem seja Simony fora do Balão), esta magra. A julgar pela forma incessante com a qual pública fotos de si mesma e de como essas fotos repercutem na "mídia", isso é um feito, algo para ser comemorado com rojões, com sons de trombetas, com uma "Fit Parade" em sua homenagem, afinal não é todo dia que uma celebridade do século passado consegue aos 38 anos, ter um abdomen  "trincado" como dizem nas academias. E eu, bobo achando que trincado era sinônimo de quebrado ou no minimo de peça precisando de reparos. É, essa galera da malhação tem muito a nos ensinar.

Fui apaixonadinho pela Simony quando eu  tinha uns 11, 12 anos e ela cantava "Ursinho Pimpão". Hoje nos raros shows que faz ela ainda canta "Ursinho Pimpão", entre outras do Balão o que mostra que se a carreira musical não foi exatamente um sucesso, o projeto de emagrecimento rende uma exposição louca na mídia. Simony nunca foi uma artista de verdade, afinal se formos falar por exemplo de Tulipa Ruiz a gordinha mais sexy da música brasileira, sua voz, e swing transcendem em muito a questão do tamanho de sua barriga, quem sabe agora, magra, Simony consegue voltar a fazer uma fração do sucesso que teve quando era uma criança um tanto quanto rechonchuda  e extremamente talentosa.

Essa obsessão que não apenas Simony, mas a grande maioria das mulheres nutre pela magreza como fator de bem estar faz com a visão sobre a artista fique infelizmente, absolutamente toldada. é difícil ter boa vontade com a produção artística de alguém que só quer saber de aparecer em fotos mostrando fotos da barriga chapada. Simony abdicou de ser uma cantora (ainda que como tal não seja nada além de razoável) para ser alguém que a duras penas, se mantém magra. Veja que ironia: Um artista deveria a todo custo cuidar de sua arte, não de suas formas serem perfeitas. Quando uma cantora é noticia por ser magra, ela deixa de ser cantora para virar a mal fadada "celebridade".

Pensamentos toldados fazem com que a visão distorcida de si mesmo fazem com que ao olhar para si mesmo e a visão ser agradável todo o restante seja dispensável. A beleza, esta tão detestável e traidora característica se torne a mais importante dentre as que possuímos. Triste isso.

É isso.

Ouvindo: J. Cash

domingo, 29 de março de 2015

Leve-me contigo (porque alguém te tocou)


Aonde você for. Como se eu fosse um apêndice seu, me leve-me contigo. Não tenhas tempo de não me ter, de não me perceber. A noite, ao dormires, Que eu seja seu sonho bom. Quando então acordares de seu sono, seu restauro, que eu seja a imagem a vir em sua mente em primeiro lugar. Abre os olhos e me vê, mesmo que eu esteja longe.

Apura os ouvidos, aquele som de chuveiro sou eu. E quando eu entro no quarto e começo a me vestir, admira as imperfeições do meu corpo. Deseja ele, o meu corpo, com a mesma intensidade com que desejas a minha alma e quando eu sair para o trabalho, que eu fique com você. Porque se eu ficar, eu serei só teu e você pode me levar, ainda que em lembranças para onde você quiser.

Leve-me contigo, é a única forma de eu ser alguém. Estar ao seu lado é a única chance de redenção possível. Leve-me contigo, abraça-me a distância. Manda-me beijos longos, brinde comigo a felicidade possível de um amor imperfeito, ainda que eu esteja a uma distância física considerável, me traga pra perto de  ti e leve-me contigo. Abramos juntos uma garrafa do melhor vinho que dois apaixonados podem tomar juntos e que as taças sejam os nossos corpos, mas para isso preciso que leve-me contigo.

Se alguém te tocar, ainda que seja um leve esbarrar casual de corpos em meio a multidão, que eu esteja contigo para defende-la, para não deixar acontecer de novo, para eu não morrer por dentro, para a aflição não me dominar, porque o teu corpo é meu e o meu é teu e que ninguém mais nos toque. Leva-me  e acaba com tanta melancolia. Leva-me e deixa que eu te pertença hoje, amanhã e depois de amanhã e por todos os dias que eu ainda tenha para viver nesta minha tão desinteressante vida.

Leva-me contigo, mas não para que eu seja um peso e sim para que eu ande ao seu lado e te ampare se você precisar. E para que eu te ame ainda mais do que eu amo e para que juntos a seja seja um e consigamos enfrentar o mundo se preciso for. Que cada dia que você me levar contigo seja de festa, e se for de dor, que em seguida venha a delícia.

Leva-me contigo, para que possa apenas te amar, e a amar e amar até o fim. E que o amor tome entre nós o seu devido lugar, que é nos tomar por inteiro. Que ele seja maior que o Sol no céu, que o amor que ao me levar contigo você vai sentir faça as coisas tangíveis menos importantes que as simplesmente sentidas. E que as sentidas, se tornem tangíveis de tão intensas porque você contigo me levou. Lembre-se, nas coisas do amor, um iletrado eu sou, mas um sentimento genuíno  arde no meu peito e ele pulsa por você.

Leve-me contigo, mesmo sabendo que eu não sou suave como a Harpa, sou uma bateria furiosa tocada por um furioso ser, mas não quero te ensurdecer com meu barulho, quero apenas chamar-te a atenção pois ser o centro de sua existência é meu anelo e não consegui-lo faz a vida um soneto sem palavras, um poeta analfabeto, um amuleto que dá azar.

Leva-me contigo e faz-me descansar. Perdoa os meus erros, suaviza as minhas rugas, cura as minhas feridas, me olha com ternura, faz de mim alguém que valha a pena. Eu sou um nada, que contigo consegue ser alguém. Ainda que por breves momentos.

É isso.

Ouvindo: Cicero

sábado, 28 de março de 2015

Algumas coisas são engraçadas em Deus.


Sim, engraçadas. Pensei nisso ao ouvir esta música aqui:



Pode trocar engraçada por difíceis de entender sem fé se você preferir, mas enfim, algumas coisas realmente me fazem pensar sobre o caráter de Deus e como ele é perfeito, ainda mais quando contrastado com minha total imperfeição. Veja, não sou teólogo e nem tenho tal pretensão de ser, mas saber que "Deus registra e sabe tudo o que comigo vai" mas ainda sim faz questão de que eu "lhe conte tudo", é um paradoxo que só a fé pode me fazer aceitar. E se eu sou capaz de aceitar este paradoxo, sou capaz de mudar minha vida.

Deus não pode mudar a minha vida sem a minha permissão, mesmo sabendo exatamente onde mexer para que ela seja  transformada a perfeição. Deus é "companheiro infalível no viver", diz esta canção, e eu acredito nisso. Mas é engraçado que a sua companhia só pode ser percebida quando eu  permito que comigo ele ande. é como se ele andasse do outro lado da rua, me observando e protegendo e esperando o meu sinal para atravessar e caminhar ao meu lado e isso é outra coisa engraçada em Deus. Ele é meu companheiro, mas isso só é percebido em minha vida de forma real e vívida quando eu me torno companheiro Dele.  Deus ser meu companheiro é a parte que a ele cabe, a minha é ser eu o seu companheiro e se não faço isso simplesmente não adianta.

Quando Deus espera que eu lhe conte tudo mesmo sabendo o que comigo vai, ele não espera uma confissão, mas um relato do meu dia. Tal qual uma pessoa que me ama, ele quer que eu partilhe com Ele como as coisas se desenrolaram, se é que elas se desenrolaram, e precisa disso, pois este relato é uma anuência, mais que isso, uma explicita permissão para que Ele faça ajustes na jornada, na minha jornada. Se eu estou em silêncio, é uma mostra que estou satisfeito com minha condição, ou se não estou satisfeito, também, não estou afim de mudar, já que não busco Nele uma troca de idéias que levaria a tal mudança.

"Meus desacertos, incertezas, muitas culpas, são percebidas, pelo coração do Pai" E talvez ai resida o lance mais engraçado desta relação. Deus enviou o seu Filho para morrer Por mim. Esta morte me livra de qualquer culpa, qualquer ônus mas mesmo assim falando de mim, vivo uma vida regada de culpas e incertezas, porque não aceito tirar o peso desta culpa de meus ombros aceitando-o de forma incondicional. É engraçado,ou seria se não fosse tristemente trágico esta condição porque  tudo esta a um simples dobrar de joelhos. Viver uma vida plena ao lado dele depende apenas de uma aceitação simples, uma renúncia a uma vida de dor para torna-la uma vida profícua, onde a alegria e a liberdade de estar sob seus cuidado me bastariam.

O mais engraçado de tudo é que Deus, sendo quem ele é, tenha tanta piedade de alguém como eu e permita que eu continue todas as manhãs acordando pra mais um dia onde irei desagrada-lo de todas as formas possíveis. E ainda sim ele só me ama. É engraçado sim. Mas é lindo também.

É isso.

Ouvindo: Regina Mota e Ronaldo Fagundes

sexta-feira, 27 de março de 2015

Tempo, tempo, tempo. Sobre Interestelar um filme ruim incrivelmente bom


"Interestelar" com Matthew McConayghey, e só com ele, pois é o único que ator que presta no filme e o carrega sozinho nas costas, é um filme ruim incrivelmente bom. Ruim porque o roteiro é um rocambole quase ininteligível  que começa falando de um mundo quase sem tecnologia mas incrivelmente tecnológico onde as pessoas estão ferradas sem comida sendo o milho aparentemente uma das poucas fontes de alimentação.

Some-se a isso uma NASA "clandestina" com um projeto que ninguém entendeu muito bem para que serve mas todos estão se esforçando para fazer dar certo. São furos e mais furos no roteiro e eles vão irritando a qualquer ser pensante, mas por outro lado o filme toca em um ponto absolutamente necessário e atual. "O tempo e sua relatividade". Sobre o filme da pra falar que Matthew  está espetacular como sempre e todo o resto é uma bomba, sobre as questões que ele levanta que são diversas da pra dizer que 99% são irrelevantes e estéreis, mas uma delas, exatamente a que fala sobre o tempo merece reflexão apurada.

Esquecendo a questão dos "buracos de minhoca" das idas e vindas, das terceiras, quartas e quintas dimensões, o tempo sempre nos é precioso, mas nunca, ou quase nunca é percebido como tal. A quantidade de tempo que desperdiçamos é tão grande que paradoxalmente nos leva a reclamar quase que incessantemente da "falta" de tempo que vivemos. Raros são os que buscam criar mecanismos que levam a um gerenciamento racional e eficiente do tempo disponível. São sempre tantas coisas a fazer e quase sempre sem a menor importância.

O filme levanta uma questão crucial que é exatamente a força do amor combinada com o tempo. O tempo pelo tempo nada mais é do que o passar dos dias,não tem força, é areia se esvaindo na ampulheta  do nada. Quando combinado com a força do amor no entanto, qual seja o tipo de amor que estejamos falando ou pensando o tempo ganha uma dimensão muito mais poderosa, que pode quebrar qualquer tipo de barreira que conheçamos e pode ser o indutor de uma nova forma de perceber-se no espaço.

O tempo com um propósito acoplado a ele se torna uma ferramenta que pode de forma definitiva mudar mentes e corações. Pode fazer com que revisemos nossas prioridades, a forma com que conduzimos nossa vida, fazemos nossas escolhas. O peso de nossas palavras e atitudes, quando o tempo é levado em consideração é outro. Não soltamos palavras ao vento e nem tomamos atitudes precipitadas quando é o tempo ou melhor a percepção de que ele passa e é implacável, que nos guia.

No filme, o personagem de Matthew busca salvar antes de mais nada a seus filhos. Não importa que o destino da humanidade esteja em jogo, o que ele quer é salvar antes de mais nada a seus filhos, pois são com eles os laços mais fortes de amor que ele possui. Cada dia passado longe deles, se não for utilizado no sentido de salva-los e se esta utilização não for extremamente bem feita é perdido. Estar longe deles só se justifica porque ele pode fazer algo que os deixe em melhor situação. Tempo perdido neste caso é ser derrotado, é te-los além de longe, sem possibilidade de serem salvos e é isso que pais fazem pelos seus filhos, eles os protegem, os salvam, os amam e este amor os impulsiona.  "Interestelar" neste sentido é um filme que fala do amor imenso de um pai pelos seus filhos.

Tempo. Amor. Propósito. Palavras tão solenes para com as quais muitas vezes não temos o menor respeito.  "Interestelar" é um filme patético em muito momentos, mas sua força reside em suscitar questionamentos sobre estas palavras e suscitar questionamentos é tudo que uma obra de arte precisa fazer, para se pretender séria.

É isso.

Ouvindo: Ray Charles

quinta-feira, 26 de março de 2015

Eu, minha filha e o Terraço Itália

Definitivamente, estou velho. Estou emocionalmente velho. As coisas que ouço me tocam, me fazem chorar, afloram minhas emoções. Em Julho, a melhor parte de mim, minha filha, a única coisa que fiz de forma correta até hoje, a luz do meu viver, o Sol que me ilumina, faz quinze anos.  A mesma menina que aos 3 anos ganhou e amou este livro aqui:          




E que me fazia lê-lo toda vez que ia visita-la, já lê por si só, ja pensa, fala, anda, enfim, é um ser que se percebe e em muito pouco tempo não vai mais precisar de minha ajuda para nada. O tempo não vai precisar de mim para mais nada. Vai voar, seguir a sua vida, fazer o seu caminho da forma que melhor achar. Eu acho  lindo, mas tenho tanto medo!!!! Porque eu me ferrar na vida, tudo bem, mas minha filha, não!!!! Eu queria protege-la o resto dos meus dias, eu queria que ela nunca fizesse nada sem me consultar e eu queria ter a sabedoria paras dirimir todas as suas dúvidas. Mas minha filha está crescendo e eu tenho que deixa-la crescer. Tenho que deixa-la ir aos poucos, para que não se afaste demais e totalmente, tenho que entender que sua hora está chegando.

E hoje, agora a pouco na verdade ela me disse o que quer de aniversário. Quer jantar no Terraço Itália. Nunca fui ao Terraço Itália, me acho bronco demais para ir a um lugar tão sofisticado. Teria vergonha. Já comi várias vezes na cozinha do Massimo, um ícone que fechou as portas, mas isto é outra história e comia na cozinha, escondidinho. Levar minha filha a um lugar tão sofisticado é uma oportunidade de me reinventar, de me tornar uma pessoa melhor, de me educar um pouco. Passar algumas horas com ela e minha esposa ali, jantando, conversando e vendo seus olhos brilharem por conta da noite que será memorável, é algo que quando penso, choro. Alias, para ser sincero, o simples pedido que ela me fez, me levou as lágrimas, pois ainda lembro de quando ela queria ir comer no Mac Donalds e um Mac Lanche Feliz a fazia sorrir. Eu não sei o que pedir e nem que talhares e copos utilizar  em um restaurante com este., mas tenho a Graziela para me ensinar, pois ela é sofisticada como eu jamais serei. Ainda bem, que eu a tenho. Por mim, comeria com as mãos.

A simples ideia de levar minha filha a um dos mais incensados restaurantes de São Paulo me faz ficar mega ansioso, pois o amor que transborda por minha filha, linda filha me faz querer proporcionar tudo o que ela deseja e eu possa proporcionar. Me sinto emotivo, me sinto meio aéreo com a ideia e me sinto com uma mega responsabilidade de proporcionar uma noite  inesquecível para ela.

Rafaela, minha vida só tem sentido por conta de sua existência. Obrigado por ser a filha maravilhosa que é. Eu te amo de uma forma tão maravilhosa e intensa, que não existem palavras para explicar.

É isso.

Ouvindo:Love, Life And Others Misteries                                               

Jorge Loredo morreu. Que bosta de mundo!


O mundo é efetivamente uma bosta. Morreu Jorge Loredo. Conhecido no Brasil basicamente por seu personagem "Zé Bonitinho" Loredo era muito mais que isso. Era um ator, um verdadeiro ator. Sucumbiu a idade e as doenças que ela traz. Loredo morreu, foi-se mais um dos poucos verdadeiramente geniais que tínhamos em nosso pais. Eles estão acabando e pior, não estão  está havendo reposição.

Loredo teve sua última participação em um filme no excepcional "O Palhaço" de Selton Mello. Quase uma ponta, mas tão construída e tão bem executada que merecia indicações a todos os prêmios de melhor ator disponíveis. Não estamos falando de um ator que se agigantava no palco e transformava uma cena coletiva em um quase monologo visual, nada disso, Loredo era generoso em cena, brilhava e fazia brilhar, em "Chega de Saudade", um bom filme da irregular " Laís Bodansky, Loredo  brilhou outra vez em um papel pequeno, mas defendido com um brilhantismo tão grande e ainda houve o bônus de ve-lo ao lado de Leonardo Villar, outra lenda de nossa dramaturgia que como Loredo jaz em algum canto esquecido, porque assim é nosso país, um país onde ex Big Brother vale alguma coisa, grandes atores e atrizes, não.

Ficar citando a filmografia de Loredo além de pedantismo puro transformaria este post em mais um daqueles em que eu  acabo demonstrando como sou culto e legal e não é disso que se trata. Quero aqui apenas dizer da dor da perda de uma parte da cultura nacional que se foi hoje e de como isso impacta em minha vida. Ver grandes astros tendo seu brilho apagado pela morte coloca sob perspectiva o destino da cultura de nosso país, que rola ladeira abaixo em velocidade crescente e ao sofrer um baque como este fica ainda mais frágil.

Não reconhecer a importância de Jorge Loredo para a cultura de nosso país é torna-lo um país menor então, na falta  de palavras melhores que definam este maravilhoso ator que nos deixou, apenas registro aqui que sempre fui um fã incondicional de seu trabalho, inclusive do famoso que mais dialogava com as massas, Zé Bonitinho.

É isso.

Ouvindo: Luís Miguel

quarta-feira, 25 de março de 2015

James Brown - A música nunca parou



Não culpo de forma alguma o ator Chadwick Boseman  por não ter uma atuação a altura de seu personagem, no caso James Brown. Nenhum ator teria. Para ser James Brown de forma crível e arrebatadora, com toda sua intensidade, fúria e sobretudo genialidade teria que nascer um ator e isso não diminui o talento de nenhum ator disponível, apenas James está acima de tudo isso.

Chadwick na verdade faz o que pode em um filme mal dirigido, mal montado e de roteiro capenga que não te faz entrar na vida do "Padrinho do Soul" em momento algum. Da forma em que foi concebido e principalmente editado o expectador é convidado a ser um observador de vários "coitos interrompidos" pois quando o filme parece querer decolar a ação é remetida para alguma situação desinteressante que nada tem a ver com o que estava acontecendo. Não se trata de forma alguma de narrativa fragmentada, o diretor é burro demais para isso, se trata de cinema ruim mesmo. James Brown não merecia passar esta vergonha. Parece que foi combinado com o diretor da biografia do Tim Maia, uma espécie de aposta para ver quem vilipendiaria mais a memória de um astro do seu país.

Esquecendo os aspectos técnicos  que fazem o filme ser aborrecido, é possível cavar as camadas de tédio e perceber que James tinha um traço em comum com os gênios, quer sejam eles musicais ou de qualquer outra área onde a arte se sobreponha  e seja a habilidade principal para fazer com que a pessoa  viva em seu próprio mundo e faça próprias regras. Chatos acharão isso o cúmulo, pessoas sensíveis entenderão que não poderia ser de outra forma, ou James não sobreviveria. James era gênio e aos gênios é permitido ser como quiserem ser e ele levou isso ao paroxismo mais extremo que se poderia levar.

Pessoas geniais como James tendem a ser egoístas e ao mesmo tempo tem a capacidade de forma absolutamente inesperada e natural de praticar gestos da mais absoluta generosidade. São violentos e ternos ao mesmo tempo, são contradições, paradoxos tão absolutos que ou se ama ou se odeia sem meio termo. Por mais universal que seja a música de James, no sentido de alcançar a qualquer pessoa de qualquer extrato seja intelectual ou social, sua personalidade é o seu maior problema, pois sempre estão prontos para a guerra, para o enfrentamento e princialmente sempre tem razão ainda que estejam calamitosamente errados. Veja na cabeça de pessoas geniais se ela é capaz de criar pérolas da perfeição musical como  "Papa's Got a Brand New Bag" porque ela precisaria pagar impostos por exemplo? Ou, em sabendo dirigir, perder tempo tirando uma carteira de habilitação. Tendo a concordar com James e os outros geniais, pois certas habilidades que pouquíssimos privilegiados no mundo tem, deveriam isenta-lo da maioria da burocracia chata que rege a vida dos adultos ditos "normais"

Pessoas como James não precisam dormir peladas para criar factóides como Leonardo Peladão Noturno, mas quando querem criar algum pegam sua escopeta e saem atirando a esmo por ai. Muito mais cool  e cheio de atitude né não? A grande maioria dos músicos são dominados pelas gravadoras, artistas reais com James fazem com que estas verdadeiras prostitutas curvem-se aos seus pés e rendam-lhe louvores. Poucos são assim e ainda bem por isto. O mundo não sobreviveria a dez James Brown, a verdade é esta.

Enfim, o filme é risível mas vale a vista pelos números musicais e pela tentativa desesperada de Chadwick de tentar dar vida a um personagem tão cheio de facetas que foi reduzido por um  eterno. Conquistou esta condição unica e exclusivamente por seu talento. Merecia coisa melhor. A verdade é esta.

É isso.

Ouvindo: James Brown