quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A bailarina e sua menina II


É sempre o mesmo tema. Sempre "Pour Elise", sempre os mesmos passos e rodopios e volteios. Mecânica e absolutamente sem graça se tornou o que faço e bem vocês sabem, eu tenho uma menina para agradar. Como eu posso agrada-la assim? No que me tornei? Uma bailarina presa a uma caixa que toca sempre a mesma música e nenhuma variação me é permitida? Será que é por este motivo que a menina, a minha menina, abre cada vez menos a caixa e quando a abre logo a fecha? Não pode ser por nenhum outro motivo, eu bem sei.

Quem me criou acha que me "produziu". Não percebeu que mais que um brinquedo, sou uma artista. Eu danço, eu sei dançar o sei como poucas. Eu poderia tomar corpo e tamanho e ir direto para qualquer palco de qualquer parte do mundo e bailar e bailar e bailar. Sem hora para acabar. Ser aplaudida efusivamente, ver as pessoas pedindo "bis". Sim, eu seria capaz de fazer isso e muito mais se não fosse apenas um brinquedo boboca que dança sempre a mesma música.

Mas se eu tomasse corpo e forma de bailarina de verdade, não ia querer palco algum além do quarto da minha menina. Todas as manhãs e todas as noites eu pensaria em uma nova coreografia para fazer os seus olhos brilharem de felicidade e suas mãos tão delicadas se unirem em aplausos pela minha performance. Eu seria feliz ao lado de minha menina e ela seria igualmente feliz ao meu lado.

Minha menina na verdade está crescendo e ao contrário de Pinóquio, eu não tenho uma fada para me transformar em uma bailarina de verdade e vejam que irônia, eu não minto, sou uma boa bailarina e meu delicado corpo de porcelana em nada lembra o rude corpo de madeira daquele boneco estúpido. Sou muito mais inteligente do que ele jamais será e dentro de mim, ao contrário do que imaginam, não existe um oco, ou algum material para preenche-lo. Existe amor, muito amor pela minha menina que a cada dia fica maior e que a cada vez que se lembra de mim e abre a minha caixa me tirando da escuridão, me surpreende com seu tamanho e beleza.

Hoje, no entanto é um dia especialmente triste para mim. Minha menina vai ganhar uma irmã, sua mãe veio comunica-la em seu quarto hoje cedo. Elas estão felizes, mas eu, na verdade estou chorando, porque a primeira coisa que minha menina disse foi que vai me presentear para sua irmãzinha. Sim, eu não serei mais da minha menina e isso me entristece sobremaneira, uma vez que em meus planos eu seria para semper de minha menina e não seria repassada nem a sua irmã e nem a ninguém. Seriamos inseparáveis e eu a veria ter os seus filhos e então, quando ela moresse, eu também me quebraria.

Porém não será assim. E fico me perguntando o que eu poss ter feito de errado para mninha menina querer me dar a outra pessoa. Eu não a amei o suficiente? Não soube expressar este amor por ser uma boneca de porcelana que dança? Para amar a minha menina e ser percebida por ela eu teria que ser como ela, de carne e osso? Não... Isso não garantiria o amor de minha menina. Nada, na verdade garante que uma pessoa vai amar a outra e é por esta razão que aprendi que temos que amar de graça, sem esperar reciprocidade, sem esperar consideração, sem esperar avisos para ausências, palavras de carinho, ternura, nada. Amar é algo que se faz porque se quer.

E quando amamos (e isto vale para bailarinas de porcelana e para seres humanos), temos que dizer, temos que expressar, temos que gritar ao mundo este amor, ainda que o que vá se receber em troca seja negativo, seja indiferença, seja ser repassado a outra pessoa. Amor é assim: Se dá não para se receber, mas para não se morrer afogado nele, para que ele não nos engolfe e para que ele seja canalizado a pessoa certa que ai sim poderá fazer com ele o que quiser.

Eu sei que minha menina nem sabe que eu existo no sentido de pensar, sentir e sobretudo viver para alegra-la. Para ela, sou apenas um brinquedo que sua vovó lhe deu e, bem, talvez eu não existisse se não tivesse fitado os seus olhos e ela os meus no momento em que ela abriu a caixinha. Sendo sincera, até a minha menina, eu não me percebia como um ser pensante e tenho certeza absoulta que isso tem a ver com a força do amor, porque quando vi minha menina pela primeira vez, eu tive certeza que estava irremediavelmente presa pelo amor que ela me despertou e então eu dançei e dançei de uma forma tão sublime que minha menina sorria e sorria e seu sorriso me fez ver que pela primeira eu tive valia.

Acontece que o tempo passa e os valores mudam e as necessidades idem e minha menina não precisa mais de mim para sorrir. Amor não cultivado de ambas as partes, amor que é unilateral mas ainda sim é mais forte que o carvalho. Amor que entende a distância e a falta de interesse do outro, amor que só pensa em fazer o outro feliz e dançar para ela quantas vezes forem necessárias e sempre como se fosse a primeira vez.

A minha menina não precisa mais de mim, desconfio que nunca tenha precisado, mas eu, ainda sim, estarei sempre pronta para dançar por ela.

É isso.

Ouvindo:Marcelo Jeneci

Paola Carossela, a digna.


Masterchef é como qualquer outro programa de tv, um produto feito para dar audiência. Não tenho certeza, mas desconfio ( seria fácil checar, mas estou com preguiça) que seja a maior audiência da Band. Com absoluta certeza, no entanto, é de longe a melhor atração do canal, ou a újnica na verdade que preste e valha a pena ser assistida.

O trio de jurados é competente. Fogaça, o brutal que com grunidos se expressa é sem dúvida o figuraça pra sentar em um bar e jogar conversa fora em um fim de tarde. Erick, o gordinho francês, tenta ser durão mas não passa nem perto disso. Mas é de Paola que quero falar.

É evidente que para assistir Masterchef é necessário levar em conta algumas questões. Não são cozinheiros que estão ali, são pessoas que gostam de cozinhar mas tem seus afazeres do dia a dia, sua rotina, suas razões e porques. Não vivem de cozinhar, não conhecem muitos dos ingredientes propostos pela produção, não tem enfim, obrigação alguma de entrega pratos fantásticos a cada episódio e ainda sim, se esforçam para tanto porque evidentemente querem ganhar, querem se projetar e quem sabe, depois de ganhar o programa, viver de cozinhar, por que não?

O que diferencia para mim o Masterchef de tantos outros programas com o formato de tentar se parecer com algo minimamente real, é que os jurados parecem entender estas questões a despeito de estarem em um programa e não ofendem os participantes ou os colocam abaixo de 0 como em "Esquadrão da moda" por exemplo, onde a tônica é chamar de imbecil, ainda que disfarçando com um bom humor que parece mais humor negro o que se esta fazendo.

Ainda que os jurados pareçam ser boa gente, a eliminação de ontem teve ingredientes únicos. Eu disse "ingredientes únicos" e estou falando ede um programa de culinária? Que horrível... Mas enfim, o que ontem aconteceu me me emocionou muito.

Paola, a encarregada de dar a triste e fátidica noticia a Lucas, não se aproveitou de uma mal disfarçada antipatia da audiência para com Lucas e ao invés de jogar para a audiência, usando de irônias e gracinhas que aniquilariam ainda mais  um já aniquilado Lucas, usou de compassividade, ternura e nem sequer usou termos como "eliminado" ou equivalentes, antes, agradeceu o candidato por ter chegado até onde chegou. E chorou.

Chorar é para atores e atrizes parte de seu trabalho. Para chefs de cozinhas delicadas como ela é uma válvula para aliviar a tensão ou tristeza. Ou ambos. E ela assim a utilizou. Sem vergonha, sem falsidade, sem sentimentos ruins. Buscou o ombro de Erick, chorou sozinha, se emocionou e esta emoção se deve ao reconhecimento do esforço do garoto Lucas, alguém tão ou mais  atrapalhado que eu e por quem tive identificação imediata. Chorei junto ao ver o vídeo de eliminação e a expressão terna e sentida de Paola, que lhe conferem uma dignidade impar e não reconhecer este tipo de conduta que faz com que o mundo ainda seja um lugar minimamente respirável seria injusto e leviano.

Hoje em dia é fácil ligar a tv e percorrer a infinidade de canais a disposição sem nem ter que passar por todos para ver cenas de ofensa a dignidade humana em forma de píadas jocosas que ressaltam defeitos que todos tem, mas parecem sempre ser apenas dos outros. Então, Obrigado, Paola, por sua postura digna e humana! O Masterchef e principalmente você ganham em estatura e eu, que nunca me interessei muito por frequentar restaurantes estrelados, faço agora questão de assim que tiver oportunidade, conhecer o seu apenas para poder dizer pessoalmente a você o que você já sabe, que você é uma pessoa única!

É isso

Ouvindo: VPC

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Eu acredito na Cruz. Só me chateio com as pessoas que dela querem fazer mercadoria.


Eu acredito na Cruz. Vi o trailer, parece um filme honesto. Entrei na onda de colocar a imagem do filme em minha foto no face, achei que seria legal e tals. Acredito na Cruz. Nãso acredito mais em uma sociedade que se mesmo ene os que se dizem crentes o que temos é a mesma forma  de promover tanto um produto secular quanto um filme Cristão.

Um filme, por mais que seja feito em esquema de produção digno de Hollywood, se tem temática Cristã não pode ser encarado ao meu ver como um mero  "blockbuster" pode ser promovido como tal. Veja, Denzel Whashington, protagonizou o "O Livro de Eli", um filme com temática claramente Cristã mas produzido por um estúdio  secular, e promovido como o que é: Um filme secular que fala de um assunto Cristão porque quer falar, embora tenha uma boa dose de violência e foi feito sobretudo, para ganhar dinheiro, nunca escondeu isso.

Eu Acredito... por sua vez, é um filme vendido como "estudo bíblico', vamos ser sinceros. Então, eu posso sim, imaginar que será promovido como tal, que terá tratamento diferenciado nas entrevistas para promove-lo por parte de seus protagonistas que será, enfim, algo realmente Cristão, feito por Cristãos.

Quando me deparo com uma chamada em redes sociais como a que acabei de ver "quer assistir eu acredito na cruz antes de todo mundo..." Como assim? ok sortear pares de ingressos, afinal em um filme Cristão, quanto mais pessoas o assistirem, melhor. mas, e talvez eu esteja sendo ingênuo, não creio que deveria ser este o enfoque quando falamos em gratuidades para ver a película.

Há meu ver, o que deveria acontecer é que ingressos deveriam ser distribuidos para pessoas que não podem ver o filme por motivos economicos ou para não cristãos que se itneressem em ver mas não queiram gastar com isso. Agora, criar uma pequena casta de "privilegiados" que vão assistir o filme "antes de todo mundo", me parece pouco inteligente e para ser franco nada Cristão.

Se somos Cristãos, não somos um povo diferente? Não fazemos as coisas juntos e unidos por um mesmo propósito? Não deveriamos nós divulgarmos este filme de graça, porque queremos ver a centelha do evangelho  virar uma labareda imensa que ilumine e guie aqueles que ainda não conhecem a Cristo até uma imagem factível e convincente de sua pessoa?

Mas se partimos de uma divulgação absolutamente igual a que todos os estúdios fazem para divulgar suas obras seculares, estamos ou não igualando esta obra a qualquer uma outra ja na partida? Estamos ou não deixando de diferenciar o que nasceu para ser diferente? Se um filme, se propõe a falar de Deus e seu amor deveria ou não ter um marketing diferente, uma abordagem diferente e se possível dar lucro já que se propôs a falar de tal tema?

Se como povo que diz seguir a Cristo não nos importamos com estas questões, quais questões importam então? Se a versão do Leonardo Gonçalves ficou tão boa quanto o original? Por que o Léo foi escolhido e não o cantor x, y ou z? Se o público vai se entreter com o filme ou vai bocejar? Se é esta a linha de questões que permeiam a curiosidade a cerca do lançamento do filme, estamos no caminho e errado de dar mais valor a forma que ao conteúdo.

Não deveriamos ao invés de pensar nos felizardos que verão o filme "antes de todo mundo" estarmos orando e clamando por uma atuação do Espirito Santo de Deus no coração dos que ainda são incrédulos quanto ao seu amor e que o filme possa ser uma primeira ponte que sirva ao dialógo entres os que não creem com os que creem na Cruz? Não deveríamos estar lutando incansavelmente pelo sucesso não do filme pelo sucesso em si mesmo, quer seja contando quantos ingressos serão vendidos, mas fazendo a contabilidade de quantas almas este filme ajudou a comover?

Desculpe, mas se qualquer outro pensamento que não seja o de fazer do filme um imenso trabalho missionário estiver nas mentes e corações dos distribuidores nacionais e dos produtores originais da obra na gringa, então este filme nem merece ser visto, pois é um produto feito de encomenda para se aproveitar da fé dos que amam ao Senhor e não percebem o poder de manipulação de setores que lucram com o que consideram a última tendência do momento e fazem até filmes para o público  "gospel" porque vão lucrar com isso.

Espero realmente estar errado em minhas palavras e que todas as intenções, que balizam este lançamento, inclusive a de fazer sorteios  nas Capitais mais ricas e que mais reverberam tendências culturais do país, São Paulo e Rio de Janeiro tenha um  motivo missionário que não consegui captar e não um motivo financeiro que parece tão evidente.

É isso.

Ouvindo: Newsboys

domingo, 16 de agosto de 2015

Reflexões que um Domingo de Sol traz (eu, uma versão de Jeff Goldblum em "The Fly")


Eu sou gordinho. Já fui magro, gordão, hoje sou gordinho. Não que a distinção mude alguma coisa em relação a quem eu sou, mas diz muito sobre como eu sou, no sentido físico. Que no final das contas, pouco importa (ao menos para mim).

Já fui um cara bem bonito quando jovem. Hoje sou beeem feio. Tenho total consciência disso. Não que isso importe também (ao menos para mim). Ser feio te deixa anonimo e não chamar a atenção pode ser, sob certos aspectos, algo extremamente positivo.

Sou, na maioria das vezes, um cara intratável. Difícil de se lidar, mal humorado, que diz bobagens e distribuo ofensas em escala industrial sem olhar a quem estou ofendendo e sem pensar se é necessário ou não ofender. Isso me faz ser odiado por boa parte das pessoas que me conhecem. Não que isso importe, (ao menos para mim).

Eu tripudio sobre a burrice alheia, alias, nãop perco uma chance de evidenciar o pouco conhecimento ou o rebaixo intelectual dos meus interlocutores sempre que possível. Faço isso pra me divertir, mas é, confesso, uma diversão bem solitária, uma vez que na maioria vezes as piadas são tão especificas, e as pessoas tão tapadas que simplesmente não conseguem entender do que estou falando. Não que isso importe, (ao menos para mim).

Eu não tenho modos. Eu peido o tempo todo, arroto, falo palavrão para caralho, falo em geral muito mais alto do que a boa educação manda, dou risada de coisas que as pessoas não entendem e me acham meio maluco por este motivo, eu toco o puteiro mesmo em termos de regras de convivência. Sou um gordo chato, mal educado e feio. Não que isso importe, (ao menos para mim).

Eu sou mais ou menos como o personagem de Jeff Goldblum em  "The Fly" (A Mosca), filme magistral de David Cronenberg, onde por uma série de fatores que não vem ao caso explicar, (vá assistir ao filme), o personagem central vivido por Jeff, vai se transformando em uma Mosca especialmente gosmenta e repugnante. Creio que passo a passo caminho para isso irremediavelmente estou a poucos me tornando uma mosca gosmenta e repugnante. Não que isso importe, (ao menos para mim).

A pouca cerimônia com que minha derrocada e a indiferença brutal que a ela dedico, são os principais fatores que me levam a escrever este texto em um Domingo que chega a ser quase obsceno de tão lindo. Por mais que eu tente, não consigo ser agradável aos olhos das pessoas, não consigo faze-las felizes com minha presença. Se tento ser agradável, acabo errando no tom e na quantidade e me torno chato. Se sou o que naturalmente sou, desagradável, estou em meu elemento, confortável, mas o desconforto a minha volta se torna evidente. Penso que seria interessante se as pessoas pudessem andar com um spray como o dos juízes de futebol, tendo o direito de delimitar com ele uma distância segura entre elas e eu. Todos ficariam felizes, e a intereção seria restrita ao minimamente necessário. Não que isso importe, (ao menos para mim).

Tenho o péssimo ato de me sabotar. Ontem ao conversar com meus clientes, disse-lhes casualmente que não tenho poder de gestão para ser um gerente de equipe de vendas. Isso é a mais pura verdade. Nas vezes em que fui convidado, declinei o convite, não sem uma dor enorme no coração, pois sempre quis ter uma equipe de vendas, sei muito bem que uma equipe de vendas nunca iria querer me ter como gerente. Eu fracassaria e se vislumbrasse a menor possibilidade de sucesso, daria um jeito de me sabotar, Eu me saboto o tempo todo, eu jogo contra  a menor possibilidade de sucesso que possa ter, porque acho que o sucesso seria a chave para o meu fracasso retumbante e final. Eu certamente não estaria pronto para o sucesso, ele me tornaria uma mosca ainda mais gosmenta e repugnante, não restando outra solução aos que comigo convivem  senão a minha total aniquilação. Não que isso importe, (ao menos para mim).

E é nesta total falta de importância que me dou e as coisas a mim relacionadas que sigo a minha vida. Tenho me sentido totalmente apático e por mais que queira genuinamente gostar mais das pessoas, interagir, ser uma outra pessoa, sempre acabo voltando ao ponto de partida de que não me interesso, antes de mais nada, por mim mesmo. Não me acho uma pessoa que tenha um mínimo de aptidões ou habilidades que possam interessar a quem quer que seja. No meu infinito particular, existe apenas uma carga muito grande de sofrimento pontuada com tentativas patéticas de transforma-lo em energia para superação. Não consigo. Não que isso importe. (ao menos para mim).

É isso.



Ouvindo: Maria Callas

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Eu decidi


Eu decidi que posso chorar a hora que eu quiser, sem ter que me esconder, sem ter que pedir licença para ser sensível, sem me envergonhar de ser como sou. Eu decidi também que posso gargalhar sempre que tiver vontade porque a felicidade é tão fugaz as vezes que tem que ser vivida ao máximo.

Eu decidi que se eu quiser cantar uma canção do Michael Bublé a plenos pulmões eu vou cantar sem me importar se existem pessoas ao lado para ridicularizarem  minha voz rídicula por natureza. Que se dane! Cantar me liberta, então eu vou cantar e ponto final.

Eu decidi amar a todos, até quem não me ama porque esperar amor em troca do amor que se dá é o caminho mais rápido para a decepção, mas dar amor sem nada esperar em que pese parecer insano é na verdade lúcidez em estado puro.

Eu decidi também que os parametros de "normalidade" que a sociedade coloca pode servir para ela, sociedade, e por mais que eu entenda que ninguém é uma ilha e interagir é preciso, eu entendo também que respeitar a mim mesmo e minhas crenças e motivações ainda que pareçam loucas é primordial.

Eu decidi mais ouvir do que falar. E não decidi calar por não ter o que dizer, mas porque entendi que tenho muito a ouvir e ouvindo aprender e aprendendo, me aprimorar e me aprimorando serei melhor e ser melhor dia a dia  aos 42 anos não é luxo é necessidade.

Eu decidi confessar minha total ignorância sobre todo e qualquer assunto que me seja apresentado. A pretensão de algo saber me embota a visão e me impede de realmente saber o que quer que seja. A presunção diminui a quem quer se exaltar  e conduz por caminhos que não quero trilhar.

Eu decidi que não mais serei indiferente a qualquer problema seja de quem for se eu puder de fato fazer a diferença e ajudar. Ajudar te deixa leve a indiferença é um peso que não quero mais carregar.

Eu decidi que a vida é compartilhar e que o egoismo não pode fazer parte de mim. Eu decidi que eu quero ser leve, quero ser amigo, irmão, quero ser alguém que quando partir, deixe boas lembranças, não um legado negativo.

Eu decidi ser feliz. Custe o que custar. E venho descobrindo que para ser feliz, não posso ser só, não posso me isolar, não posso ser referência negativa. Para ser feliz, eu preciso buscar na minha essência, o que eu sei que lá está, mas por puro desleixo, não deixo vir a tona. Chegou a hora de emergir em mim o que tenho de melhor. Chegou a hora de ser alguém. Chegou a hora de ser eu mesmo e me despir do personagem. Chegou a hora.

É isso

Ouvindo: Michael Bublé

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Eduardo Sterblitch, racismo, humor ruim, esquetes equivocados e a geração dos politicamente corretos


O mundo anda chato demais. Os politicamente corretos dominaram  a cena. Dito isso, racismo é inaceitável, uma bosta completa e tem que ser duramente combatido, assim como o  machismo,e tantos outros "ismos" que assolam a sociedade.

Eduardo S. é integrante do programa "Pânico na Band". Gosto do Pânico no rádio porque ali eles tem, creio eu, uma liberdade maior e uma pressão menor por audiência e tudo o mais, mas veja, eu posso estar redondamente enganado, eu apenas acho isso não da pra cravar. Creio também que esta pressão por audiência os faça muitas vezes seguirem a trilha  do mal gosto pura e simples, seja apelando para mulheres semi nuas, seja ridicularizando pessoas com dizeres pouco agradáveis de se ouvir, seja com qualquer outro tipo de ação pouco louvável.

Acontece que humor que não é transgressor é mera assessoria de imprensa  disfarçada, servindo a alguém ou a algum propósito e pode-se acusar o Pânico de tudo, menos de se utilizar deste expediente. Revelou (e revela) humoristas que são sucesso hoje tanto la mesmo como em outros canais, não tem medo de dar a cara a bater com píadas que algumas vezes parecem ser editoriais disfarçados que revelam a opinião da trupe (que não é composta de imbecis, muito pelo contrário) e cumpre enfim, o seu papel de divertir pessoas um tanto quanto acéfalas que não entenderiam uma piada mais elaborada, um humor digamos, vindo de Woody Allen.

O problema não está de forma alguma na formação dos integrantes da trupe, mas no púlbico alvo em que eles miram, adolescentes ou adultos sem formação e estofo para dar risada com algo elaborado e quando se mira para este público o que se precisa é ser raso e direto, "explicar" a piada, ser muito visual e pouco verbal, desenhar, não escrever.

Eduardo S. se destaca neste contexto. é muito maior que seus pares seja pela evidente formação cultural que transborda de si, seja pelo óbvio talento que tem. Não é um qualquer, não é mais um, é de longe uma das melhores coisas que apareceram na tv brasileira nos últimos tempos e mesmo quando exagera e carrega nas tintas em personagens como o "Poderoso Castiga", sendo muitas vezes machista e destilando misoginia, ainda sim o faz de um jeito transgressor e consegue a cumplicidade dos entrevistados de uma forma que não se pode sentir pena deles apenas achar que eles são o que aparentam, patetas rematados, sanvando-se sua entrevista com Edgard Vivar o Senhor Barriga, que foi de fato a única real entrevista que ele fez, as outras foram apenas exercícios de humilhação alheia aos que os humilhados como já disse aqui se entregaram com o maior prazer.

Mas dai veio a "black face" as tiradas consideradas racisastas e aviltantes tanto ao povo negro com as religiões de matriz afro e pronto. Eduardo S. virou racista. Deixou de ser um humorista e se tornou o opressor do povo negro brasileiros e ONGS que vivem de financiamento público agora querem sua cabeça. Eduardo, talvez tenha usado de mal gosto, algo que os humoristas sempre correm o risco de fazer dado a natureza de seu ofício, mas o racismo, creio eu, é algo que se caracteriza quando é intencional, quando é premeditado, quando as palavras ou atitudes saem para ferir, magoar. Quando saem de forma não intencional são erros que devem ser pontuados e corrigidos.

Acontece que em nosso país onde pop stars da ignorância tem status de gênios, trazer uma pessoa ao centro da arena e lincha-la seja de forma literal, seja de forma moral, é esporte bastante popular em tempos como estes que vivemos. Não podemos apenas admitir e aceitar que alguém errou, temos que massacrar, buscar o pior, alimentar a "polêmica" por mais vazia que ela seja e esquetes ruins de humor viram atos racistas. O humor do Pânico não me serve. É tosco demais, não me faz pensar, me constrange ver como pessoas se submetem a tanta patetice, mas é apenas isso. Humor ruim. Quando dão um passo em falso no entanto, joga-los aos leões e trata-los como tolos levianos racistas, só evidência que esta geração politicamente correta não quer pensar, quer atacar no automático, quer ofender, quer espicaçar quem já errou.

Esta postura não agrega e muito menos resolve problemas e corrige erros, é apenas um grito vazio em um universo escuro onde o som nem se propaga, quanto mais faz-se ouvir. Não precisamos deste tipo de postura, não precisamos de ONGS mais preocupadas em encher seus cofres do que com as cuasda que dizem defender. O país precisa de um debate sério,  precisa (re)criar uma identidade nacional, hoje esfacelada não pelos humoristas, mas pelos governantes. Precisa de cabeças pensantes que questionem sim, a tudo e todos, mas sem ofender, sem acusar, questionem buscando soluções, não a criação de conflitos tão vazios quanto inúteis.

Precisamos de pessoas que pensem  e sobretudo de pessoas que sejam legais e bacanas o que é extremamente mais díficil do que ser legal e bacana.

É isso

Ouvindo: Foo Fighters

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

E se eu fosse morrer em seis meses? (Sorrisos, flores e amores)


Claro que eu posso morrer amanhã.  Posso morrer depois de amanhã. Ou ainda, posso cometer a deselegância de viver mais 20,30,40 anos. Vai saber?  Mas e seu soubesse que ia morrer em seis meses? Que no dia 10/02/16 eu estaria deixando de forma definitiva este mundo? O que eu faria?

Sou bem mais previsível do que eu gostaria de ser, ao menos em algumas áreas e se eu soubesse que tenho data de validade, provavelmente me tornaria uma outra pessoa. Que pessoa eu me tornaria? Vamos lá.

Começando pelo óbvio e previsível, eu me reconciliaria com todas as pessoas que hoje não tenho boa relação. Não, não ia pedir para elas como que por um passe de mágica gostarem de mim, nada disso. Apenas tentaria não  morrer sem antes ter me acertado com pessoas que eu gosto e que por algum motivo(os) não estão neste momento tendo uma relação digamos saudável comigo.

Por que? Porque estar brigado com quem se gosta e estima não é algo que faça bem para o meu fígado e nem para o fígado de ninguém. A noção de que a vida é curta é bem firmada em minha mente e obviamente ficaria ainda mais se eu tivesse apenas seis meses de vida. Então, estar bem com as pessoas seria algo primordial para morrer com alguma dignidade.

Diria a todas pessoas que eu amo o que sinto por elas. Gosto de pessoas que nem desconfiam que delas eu gosto. Vivo minha vida como se as pessoas me fossem indiferentes e definitivamente elas não são. Pessoas são tão importantes para mim a ponto de amar várias delas mesmo que eu prefira deixar isso em secreto. Não sei "gostar" de alguém.  Eu só sei amar. Se eu gostar de alguém, eu automaticamente amo esta pessoa, intensidade pura elevada a enézima potência porque eu creio que é assim que a vida vale a pena ser vivida. Esse lance de ficar "gostando do outros" dessa forma até meio despretensiosa definitivamente não é comigo, mas como também não é comigo aguentar decepções, fico na minha. Se eu fosse morrer em seis meses no entanto, sairia distribuindo sorrisos, flores e amores a todos os que amo.

Ia me organizar para ouvir ao menos 100 canções por dia de uma lista de mais ou menos umas 5.000 que acho que valem a pena ser ouvidas antes de falecer. Isso é vital, absorver, ainda que para levar para o túmulo, toda a arte musical que eu puder. Ia fazer meus dias mais leves.

Claro que ia tentar ser um pai e marido melhor.  Não éfácil para mim ser nem um nem outro, mas tento, com boa vontade, e tentaria com ainda mais afinco. Seis meses passariam voando então escolheria ser apenas uma pessoa boa e agradável. Perder 180 dias sendo chato e brigão me faria apenas perder tudo o que eu poderia viver de bom neste curto espaço de tempo.

Eu dormiria menos. Prestaria mais atenção ao sabor da comida, seja ela qual for, porque hoje eu como rápido demais. Eu buscaria me vestir melhor tambérm e fazer a barba com mais frequência para aparecer mais apresentável na frente das outras pessoas. Irônico este pensamento na medida em que logo eu estaria sendo comida de vermes, mas ainda sim, tentaria parecer elegante nos meus  dias finais.

Por outro lado não tentaria uma reconciliação com Deus. Creio que seria a coisa mais hipócrita que eu poderia fazer e no fim dos meus dias eu não iria querer ter atítudes hipócritas. Deus é para ser amado dia a dia, é Alguém para se construir uma relação nos dias bons e maus, não apenas na eminência da morte. Seria desonesto para com Ele, seria injusto e como já mencionei, Hipócrita. Deus não é alguém para que se zombe e busca-lo apenas porque se sabe que se vai morrer para mim é exatamente isso: Zombar Dele e de sua santidade.

Creio que a maioria das pessoas teme a morte ainda mais quando anunciada. Eu não fujo a esta regra, então o medo seria meu companheiro e certamente teria crises de choro intermináveis e como também me conheço muito bem, logo em seguida me agarraria a uma esperança ferrenha de que algo aconteceria e no fim de contas eu durasse um pouco mais. Sou um otimista por natureza.

Eu iria querer ir a praia. Não para entrar no mar mas para contemplar uma última vez a vastidão e imensidão da criação de Deus, embora o mar  que se veja de uma praia qualquer seja apenas a fração visível de tal criação, eu iria querer admira-la. Não sou dado a grandes arroubos de meditação, mas talvez ali, me vendo tão perto da minha morte, tivesse um encontro comigo mesmo.

Sorrisos, flores e amores. Creio que isso seria tudo o que sobraria em mim. Sorrisos, flores e amores seria meu lema de vida nestes fátidicos 180 dias finais. Sorrisos para amenizar, flores para embelezar e amores para obviamente, se amar. Vive até aqui 42 anos. Se em 180 dias finais eu conseguisse oferecer sorrisos, flores e amores, minha vida então teria valido a pena.

Não, não vou oferecer uma reflexão de por que então naõ viver assim mesmo sem saber quando morrerei. A resposta é por demais óbvia e ao mesmo tempo complexa e deve ser buscada por cada um que deseja refletir sobre isso dentro de si. Afinal o impacto de saber que se vai morrer em 180 dias bateria em cada um de um jeito. Em mim, ao refletir sobre isso, me fez querer viver uma vida de sorrisos para amenizar, flores para embelezar e amores para se amar.

É isso.

Ouvindo: Cassiane